segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma Entrevistra sobre Divórcio

Quando sabemos que o amor acabou e é a hora de pedir o divórcio?
Para responder a essa pergunta, um exemplo comum de relacionamento e comentários sobre ele:

Homem e mulher que moram sozinhos e gostam um do outro resolvem morar juntos.

As razões dos sentimentos e decisão dele: atração sexual (provocada pela novidade, corpo e bom sexo); economia de dinheiro; companheirismo e amizade dela; prazer no diálogo (as idéias e desejos referentes ao futuro convergem) e sonhos referentes a constituir família.

As razões dos sentimentos e decisão dela: medo de ficar sozinha e não ter filhos (passou dos 30); boa amizade; sexo razoável; ele ser atencioso para com vulnerabilidades dela, além de ser carinhoso e bom ouvinte.

Ao longo do relacionamento por 5 anos:

Ele em relação a si, ao mundo e a ela: a novidade se tornou cotidiano (“a grama da vizinha parece mais verde”), o corpo dela perdeu a firmeza e ganhou peso (por ter que trabalhar mais, cuidando-se menos) e o sexo piorou (até porque ele se dedica menos); a economia de dinheiro que pensou que ocorreria não se realizou; o companheirismo continua bom; decidiu que não quer mais ter filho, afastando-se dela em termos de desejo para o presente e futuro; e as brigas cotidianas sobre esses e outros assuntos geraram um desgaste no relacionamento.
Resultado: os sentimentos dele por ela diminuíram consideravelmente, embora tenha entrado numa zona de conforto, onde o questionamento sobre o relacionamento não é aprofundado.

Ela em relação a si, ao mundo e ele: o medo de não ter filhos aumentou; o afastamento da amizade pelo trabalho e cansaço tem incomodado; o sexo piorou por falta de dedicação e carinho dele; a impaciência dele com as fragilidades aumentou; e as brigas cotidianas sobre esses e outros assuntos geraram um desgaste nos bons sentimentos.
Resultado: os sentimentos dela por ele, em geral, diminuíram.

Comentários: com o diálogo (sendo esse o "sistema imune" da relação), o sexo pode melhorar, a mulher talvez se disponha a se esforçar para cuidar melhor do corpo, ele pode vir a ser mais paciente com as fragilidades dela e outras mudanças, contudo, ele decidiu não querer ter filho e ela sim. Então, embora diferentes problemas possam ter sido resolvidos, um fundamental (ter filho) não foi superado, assim, a separação é provável.

Casar é o ato de duas pessoas morarem juntas numa mesma casa, as razões para tanto podem ser muitas, amor é apenas uma delas. De uma maneira geral, o divórcio é indicado (a) no momento em que o homem ou mulher percebe mais custos/ dores/ desconfortos do que benefícios/ prazeres/ agrados no casamento, adicionando-se a isso o fato de (b) ter buscado desenvolver bons diálogos que não tenham promovido as mudanças buscadas por um e/ou pelo outro para melhorar o relacionamento, além de, na medida do diálogo, (c) haver a percepção de que o momento de mais dores do que prazeres tende a se prolongar de tal forma e com tantas dificuldades que, mesmo sendo uma fase do relacionamento, caso ficassem mais 3 anos juntos, o esforço não seria válido.

Ainda, é importante perceber se o que mantém o relacionamento são as belezas do passado ou a esperança de melhoria, um relacionamento que vive de um ou outro vai mal, e por vezes, é a única coisa que o sustenta, o que torna o presente, que é o único viver real, uma ponte de um momento do que foi para o que pode vir a se tornar, viver assim é uma eficiente maneira de viver mal.

Existem casos em que as pessoas preferem sofrer a pedir divórcio, por que isso acontece?
A regra de vida (que forma muitos relacionamentos) de muitas pessoas casadas é a seguinte: "mal casado, pior separado". Pedir divórcio é uma violência auto-imposta, uma dor no presente em prol de um futuro melhor, muitos indivíduos têm dificuldades de se separar por causa de prováveis dores, que tendem a ser:
- baixa auto-estima provocando a sensação de que ficará sozinho pelo resto da vida
- falta de referência sobre outros relacionamentos, dando a entender que nunca terá uma troca como a que teve com a pessoa com a qual está
- medo de diminuição da condição financeira
- a promessa de um e/ou de outro de que um dia melhorará, nunca dando a certeza de que separação é a melhor decisão
- enfrentar a discussão do final
- as dores pelas quais os filhos tenderão a passar
- receios referentes a punições diretas ou indiretas dos filhos em relação aos pais
- medo de enfrentar a vida sozinha
- buscar ter uma certeza, inexistente, de que se separar é melhor que ficar sozinho
- medo de perder o significado da vida (algumas mulheres acreditam que só podem ser plenas se forem casadas e/ou úteis para um homem)
- medo de achar que falhou
- fantasiar que todo relacionamento será igual, então não vale se separar
- culpa por provocar a dor no outro de não o ou a querer mais

Como agir com os filhos nessa hora tão delicada?
Raras serão as separações que os filhos apoiarão 100% (salvo relacionamentos permeados por violência física e/ou verbal), as dores mais comuns dos filhos provocadas pela separação dos pais são: (a) sentirem-se culpados pela briga de um ou outro, ou por (b) ter que escolher morar com um ou outro; (c) sentirem-se desprotegidos, seja financeiramente, fisicamente ou emocionalmente; (d) perda da fantasia de um lar bom e constante, que dure até o fim da vida; (e) perda dos confortos de ter pai e mãe morando juntos e até mesmo o (f) desconforto de ter que lidar com a mãe jogando o pai contra os filhos e/ou o oposto. Para cada uma dessas dores, há possíveis soluções, por vezes impossíveis de serem indolores; boas idéias podem se referir a dizer a verdade do pai e da mãe, mencionando as mudanças que tenderão a ocorrer durante todo o processo de separação, e que a responsabilidade pela separação é de decisão dos pais, por dificuldades deles, e não dos filhos.

Os pais são, na maioria das vezes, as lentes que os filhos usam para olharem para o mundo, relacionamentos e eles mesmos, o mesmo vale para como lidar com a separação, então, tanto mais os pais estiverem tranquilamente decididos em relação ao divórcio, tão maior tende a ser a calma que passarão para os filhos sobre esse processo.

Quais os benefícios de um divórcio?
Tão pior estivesse o relacionamento e tão melhor alguém conseguir viver por si mesmo, tão maiores e melhores serão os benefícios.
Os benefícios mais comuns são: acabarem as discussões que havia no relacionamento; criar a possibilidade de tomar decisões por si, sem se preocupar com o que o outro pensará; conhecer alguém novo e usar o que aprendeu de bom nos relacionamentos anteriores, embora sem os cortes acontecidos; redescobrir o que gosta da vida independentemente de outra pessoa; não ter que se obrigar a ter sexo ou carinho ou ter que dormir com quem já não admirava; criar a possibilidade de conhecer pessoas novas, escolhendo melhor dessa vez; enfim, saborear a liberdade de estar só, e conhecendo-se melhor, ser mais feliz em futuras decisões num próximo relacionamento.

Depois do divórcio, é comum que principalmente as mulheres passem por um momento de grande tristeza, como superar isso?
A dor do divórcio vem quase que essencialmente (a) da perda das coisas boas do relacionamento, unido a um (b) possível golpe na auto-estima, principalmente se for a pessoa que foi rejeitada.
Com relação a (a), possíveis caminhos para superação:
- Buscar a fazer por si o que o ex- fazia de bom por ela. Por exemplo: se ela se divertir ao ir a um cinema ou a um bom restaurante, fazer essas mesmas coisas sozinhas ou com alguma amiga. Tanto mais alguém depender de outro na vida para ser feliz, tão mais a própria felicidade estará dependente do convívio com outra pessoa, o que, diga-se de passagem, aumenta o peso da mulher em relação ao homem, tornando o envolvimento desnecessariamente pesado.
- Aceitar que as dores da separação são uma realidade, e que apenas o tempo, na medida em que a mulher tomar iniciativas para mudar o seu estado, finalizará as suas dores.
- Resolver uma dor de cada vez, intercalando elas com diversões. Por exemplo: é bastante útil, após a separação, buscar entender o que levou ao fim do relacionamento, levando-se em conta que é bem mais agradável dizer que os erros foram do outro, sendo os próprios muito pequenos. Entretanto, por doer essa atividade, quando ficar cansada demais ou dolorida demais, é útil se divertir. Vale lembrar que é muito comum cometer num próximo relacionamento os erros do anterior, facilitando o mesmo efeito, daí a utilidade de saber, na medida do razoável, o que levou ao fim, principalmente por causa própria.

Com relação a (b), possíveis idéias úteis:
- Dificilmente alguém será a única fonte de prazer para outra pessoa por muito tempo, e se assim o for, há que se desconfiar que o indivíduo em questão tem problemas de relacionamentos com outros e de viver a própria vida.
- Entender que a substituibilidade de cada um é proporcional a quanto o outro via complexas características na mulher. Por exemplo: não importa se determinada mulher fosse a mais linda, mais inteligente, mais companheira, mais amiga, mais dedicada, mais graciosa... Se tudo que ele quisesse numa mulher fosse a beleza física, inspirando o sexo, após (até) cerca de 3 anos, ele já teria se acostumado com a beleza, tornando-a facilmente substituível, contudo, se ele quisesse também amizade, cuidado e risadas, seria bem mais difícil de ela ser substituída.
- Algumas pessoas são para ou outros como vinho tinto, quanto mais tempo passa, melhor elas se tornam; outras como vinho branco, quando jovens, são agradáveis, mas na medida das dificuldades da vida, vão perdendo seu sabor e vitalidade; outras como aceto balsâmico, gostada por alguns, mas dificilmente buscadas como fonte diária de sabor; outras como água, matam a sede e tem pouco gosto. Cada um pode melhorar a si mesmo, segundo os próprios critérios e de outros, não fazer isso é continuar cometendo os mesmos enganos com 50 que eram feitos com 18 anos, atitude pouco sábia para consigo e outros.
- Aceitar que não se é tão bom quanto gostaria de ser, seja para si ou outro, mas isso não tira seu valor. Saber valorizar-se independentemente do que o outro pensa é uma virtude para o bem viver.

Nenhum comentário: