quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Amizade III

Ele para o colega: mas ele é meu amigo...
A resposta: alguma vez você abriu seu peito para ele ou lhe conheceu a alma?
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O primeiro, após alguma reflexão: hm... não...
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Uma das primeiras perguntas que faço a um paciente numa primeira sessão é se tem amigo, no geral, a resposta é "sim", contudo quando vem a continuação "sobre o que vocês conversam?", tudo se complica, ou se preferir, se mostra desnecessariamente limitadas as relações assim denominadas.
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Dura a vida de alguém que não tem seu espírito conhecido por outrem de confiança e um mínimo de sabedoria...
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Os efeitos de uma vida sem confiança da sua intimidade a outro costuma gerar sensações de solidão, por não haver alguém que o ouça com genuína disposição; de vazio, por não somar a própria felicidade a outro que se regozija, por vezes, puramente com o bem-estar do primeiro; de catatonia do espírito, por não haver alguém que lhe guie na reflexão e crítica sobre si; de sofrimento sem superação, geralmente com merecdio esforço por importantes idéias inspiradas e propostas em ricos diálogos. Um bom psicoterapeuta pode fazer tudo isso, ao mesmo tempo que é desnecessariamente duro não ter alguém que faça isso no lugar do profissional.
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Aprender a fazer amigos é fundamental, viver sem amigos é como ser vegetariano, até é possível, mas abre-se mão de muitos sabores do e para o espírito.
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"Confiar na medida do conhecimento", eis a regra de Cícero para serem criadas e então formadas diferentes amizades. É verdade que há temor, por parte de muitos, nessa rica relação humana, pois dela vem a única real possibilidade de traição, mas o homem governado pelo medo morre, antes da morte.
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Então, aprender a se tornar um bom amigo, a criar bons laços, formar belas intimidades, ser traído e continuar, eis uma oração possível.

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