domingo, 10 de outubro de 2010

Separação: uma decisão racional e antinatural

Eis o instinto: buscar prazer e fugir da dor!

ou melhor:

Prazer e Alívio! Imediatamente! Intensamente!

A dificuldade de manter uma separação, ou realizá-la, advém do fato de que logo ao ser tomada a decisão, logicamente motivada pelas coisas ruins (faltas e falhas), essas se afastam, e agora, o que tinha de bom começa a fazer falta e/ou o que não tinha de ruim começa a existir (vide separação de bens e afins). Esse processo é bastante visível em um ou dois dos namorados ou cônjuges que tentam se afastar e não conseguem, pois assim que se imaginam ou se percebem sem o outro, a dor da perda do que havia de bom se torna imediata, contrariando o instinto, que demanda o fim do sofrimento, o que seria apenas possível ao voltarem ao convívio.

Enfrentar a perda, ir contra o instinto, ser capaz de ficar sem o que o outro dá de alimento para o espírito, sem o que o outro inspira ou traz de bom, enfrentar a vida sem companhia - até então proporcionada pela presença do outro, minimamente pelo menos - eis um movimento animal antinatural, eis a dinâmica natural da separação, eis uma das dores do rompimento.

Uma da série de sofrimentos de quem decidiu colocar um fim se revela no potencial, ilusório ou não, de finalizá-los imediatamente, e para tanto, seria necessário apenas uma ligação, alguns quilômetros ou minutos de distância. Essas são dores de quem iniciou o fim, ou pelo menos o originou, quem foi deixado tende a ter outras dores além dessas (embora em proporções diferentes como as da rejeição e da insuficiência, mas não é esse o momento de falar do deixado). Quem foi deixado precisa aceitar, quem deixa, necessita, por vezes, retomar com constância as causas da sua decisão, indo contra o instinto, conseguindo pensar no viver bem a médio e longo prazo, batalhando contra o imediatismo, um hábito genético e amplamente trabalhado na mídia nas suas múltiplas formas (“perda 5kg em 2 semanas”, “fique rico em 2 anos” e...).

Ser capaz de guerrear contra o instinto, até para viver melhor depois, eis um movimento necessário, doloroso, mas fundamental para quem busca os sabores do viver com alegria e felicidade.

Entretanto, muitas pessoas passam suas vidas fugindo das dores prioritariamente, e entre um respiro e outro, buscando suas felicidades. Parece-me que com a idade essa dinâmica aumenta, porém, observações mais rigorosas seriam necessárias para positivar essa hipótese.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bayard, realmente e isto mesmo