quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Epitáfio de Final de Ano

Mais um ano morre, sua memória, história e efeitos se fazem presentes, mas já pertence ao que foi.

Faz tempo que eu tenho um medo, que faço questão de não superar: de chegar ao final da vida com a sensação de que a desperdicei. Como garantia para evitar o objeto de meu temor, aprendi a fazer um balanço do meu viver... Na realidade, um exercício que me forço a fazer, pois é sempre desgastante, embora muitas vezes gratificante.

Alguns acreditam numa vida após essa, o que por vezes me dá a impressão de ser a única maneira para eles e elas de viverem essa, por acreditá-la ou percebê-la pobre ou miserável como está, e assim, com base na esperança, trocam o sabor de hoje pela crença de uma continuação melhor após o seu fim.

Até porque não tenho dúvidas de que mesmo que as pessoas vivessem 300 anos, ainda achariam que viveram pouco, pois continuariam vivendo mal. Ora, qual seria a diferença de agüentar um casamento ruim de 30 ou 150 anos? Ou a diferença de trabalhar no que não preenche o espírito por 40 ou 200 anos? Ou ainda, de ter uma qualidade de vida ruim de 25 ou 100 anos?

Entendo o apelo de fantasiar sobre o que nunca é feito, de prometer coisas para si para o ano seguinte, que curiosamente, são promessas similares às do ano anterior. É mais fácil imaginar do que fazer, mas Milton Nascimento diz melhor: “longe se vai sonhando demais, mas onde se chega assim?”

Ainda me divirto, com humor saudável, sobre frases como “que o ano seguinte seja melhor...”. Afinal, quem precisa de um ano melhor senão quem viveu, na somatória, mal nesse ano? Como seria bom poder dizer com o peito aberto e alma leve: “que o ano que vem seja como esse!”

Falam a bobagem “arrependa-se do que não fez, e não do que fez”, mas quem pode dizer que sabendo de todos os efeitos lesivos em si e noutros das próprias ações, que as repetiria exatamente? É preciso um homem ignorante, arrogante ou psicopata.

Alguns podem defender a idéia de que não sabíamos na época das nossas ações os efeitos que teriam, isso é óbvio, contudo, o arrependimento nos permite sermos realistas e aprendermos com os nossos erros, não é uma questão de nos sentimentos culpados e travar nossas vidas, mas sim de nos tornarmos mais humildes (de húmus ou terra, ou seja, viver e pensar com os pés nela a todo momento), mais humanos, porque alguns desejam ou querem a perfeição de si, desumanizando-se assim.

Há uma idéia antiga que diz mais ou menos assim: “qual guerra eu não quero evitar para viver bem?”. Essa é uma das maiores causas das pessoas viverem mal, elas, no fundo, não se dispõem a pagar o preço da mudança, do esforço, suor, lágrimas, dedicação, atenção, perda. E assim, ao final do ano seguinte, elas têm mais do mesmo do ano anterior.

Então, desejo para todos nós um epitáfio de final de ano de 2011 melhor que 2010, e para os sortudos (segundo um amigo meu, e concordo com ele: “a sorte é o encontro da eficiência com a probabilidade”), um epitáfio igual ao de 2010.

Assim, um Feliz Ano Novo!!!

3 comentários:

Marcos Bona disse...

Bayard, agora toda vez que postares receberei automaticamente no igoogle, gostei do "Sabores da Liberdade"...gostei, Feliz Ano Novo, 2011 só não será melhor do que 2012, gosto de pensar assim...

Cláudia Nogueira disse...

Bayard, gostei da mudança do nome, realmente a liberdade é para saborear e menos para atormentar.
Desejo mais um bom ano para você, afinal todos são bons.

um forte abraço
Cláudia Nogueira

alamiotto disse...

Olá, passei por aqui.
A cada ano que se inicia, os seres humanos, desejam para outrem,e/ou querem para si, uma vida melhor do que a que tem vivido até então. Porem a grande maioria, das pessoas, continua agindo e fazendo, exatamente, as mesmas coisas e da mesma forma que tem feito até então e, consequentemente, obtendo os mesmissimos resultados, entra ano sai ano. Quase a totalidade das pessoas não se dá conta que agindo e fazendo sempre da mesma forma, obterão sempre os mesmos resultados. Para obtermos resultados diferentes temos que mudar a maneira de fazer e de agir. Porem nós, seres humanos, temos medo da mudança. Queremos o resultado mas não queremos pagar o preço, é a "neofobia", o medo do novo, do desconhecido.
Se estamos satisfeitos com o nosso estilo de vida e com nossos resultados, vamos continuar agindo e fazendo da mesma forma, caso contrário vamos fazer diferente, senão vamos passar toda nossa vida de forma mediocre desejando algo melhor, ilusoriamente. Não adianta desejar, apenas voce decide como será o teu 2011. Boa decisão a todos.
ALAIR MIOTTO