sexta-feira, 1 de maio de 2020

Esgotamento Psicológico na Pandemia

Até antes da quarentena, as pessoas estavam vivendo dentro de um padrão já claro, seja com o trânsito, contas a pagar, responsabilidades familiares, dificuldades de saúde, problemas afetivos e outros; alguns estavam perto dos seus limites de esgotamento orgânico e emocional, outros, mais longe.

Aí, veio a Pandemia.

Ela veio com uma variável enorme de pesos emocionais, sobrecarregando muitas pessoas, e extremamente disseminada por várias mídias parasitarias, tendenciosas e sedentas por dinheiro e poder; com capas de heróis que relatam apenas fatos (para quem acredita em "Papai Noel").
 
Vários dos seus pesos são:

- Com música de terror “hollywoodiano” no Jornal Y: “Indivíduo de menos de 30, fora do grupo de risco, morre!”. Pesos: “eu posso morrer a qualquer momento, assim como quem amo também!”; “ninguém está a salvo”, gerando medo, ansiedade, tristeza, sensações de impotência, catastrofismo iminente e sofrimento por estas dores.

- Com música de sofrimento e cenas de bondade: "#fiqueemcasaenaotrabalheforadelaouserapreso”, sendo que, enquanto isso, serão libertados líderes de facções criminais. A hipocrisia deste aspecto é simplesmente inominável e “inadjetivável”. Pesos: raiva, injustiça, medo de ficar sem condições econômicas E indignação.

- Pensamentos provocados pelos medos: “A pessoa na minha frente pode estar contaminada sem saber, e não está usando máscara!”. Pesos: “essa pessoa pode me contaminar!”; “não respeita a mim e nem aos meus familiares, boçal!”, gerando medo, raiva, pensamentos persecutórios, sensações de injustiças e desrespeito social.

- “Mantenha-se distante do público de risco, fique confinado com ele ou ela, e se tiver que sair, cuidado, você pode contaminá-lo ou contaminá-la e matar quem você ama!” Pesos: “sou responsável pelo meu pai ou avó não contraírem o vírus e se eles o fizerem, serei culpado pela morte de quem amo!”; podendo provocar apreensão, culpa, ansiedade e tristeza.

- “Mantenham as crianças em casa, pois podem se tornar os maiores disseminadores do vírus chinês!”. Pesos: “crianças cheias de energia e num ambiente de 30, 100 ou 150 metros quadrados por cerca de 60 dias” (ninguém que estiver lendo este texto passou por isso na vida, salvo aqueles que tiveram doenças graves, e mesmo alguns destes podiam sair de casa sem problema algum); tentativa de entreter os filhos gerando exaustão, além dos sofrimentos nos próprios pequenos, por contenção de energia; somado a brigas com os filhos e entre o próprio casal.

- “Homeoffice dava a impressão de que trabalharia menos, mas tenho trabalhado mais, inclusive, por medo de perder o emprego”. Pesos: cansaço próprio do excesso de trabalho, somado aos afazeres domésticos (mas isso para quem de fato se confinou, mas não se “esqueceu” de liberar os seus colaboradores para a casa deles).

- “A crise econômica está piorando, tantos desempregados, diminuição de salário, e possibilidade de perder o emprego nos próximos dias”. Pesos: possibilidade de demissão gerando medos relacionados a passar por uma crise econômica e eventuais sofrimentos que possam vir disso: tirar os filhos da escola, não conseguir pagar o convênio de saúde do pai ou mãe no mês seguinte, não conseguir pagar a casa de repouso da vó com Alzheimer, não conseguir manter o filho na faculdade e por aí vai; gerando sensações de incompetência, fracasso e diminuindo a autoestima e orgulho da própria vida.

- “Compra de aparelhos por R$ 550 milhões e que poderiam ter sido comprados por R$ 54 milhões, com o seu dinheiro, sem licitação e para poder salvar você no futuro!”; prefiro não me ater muito neste. Uma verdadeira violência física, emocional e moral contra o povo.

- Acúmulo de funções do trabalho provocados pela demissão de colegas. Além do próprio medo de perder o emprego, uma real sobrecarga de responsabilidades e deveres. Pesos: cansaço por excesso de atividades profissionais, sensação de incapacidade de lidar com tudo que é esperado e diminuição do tempo de lazer.

- E para fechar com requintes de sorte do inferno: uma crise política ridícula agravada por fascistas e narcisistas. Pesos: viver num estado fascista que fica dentro de um país democrático, inspirando indignação e confusão.

Muitos chegarão ao final da pandemia e após ela com quadros de “Síndrome de Burnout (esgotamento)”, de “Ansiedade” (como TOC e “Síndrome do Pânico”), “Depressão”, de piora nos relacionamentos afetivos e diminuição de autoestima; e com aqueles que assim ocorrer e for doloroso demais tentar resolver sozinho, procure ajuda em familiares, amigos sábios, religião, psicologia clínica e/ou psiquiatria.

E aí vão algumas soluções nada simples, mas extremamente necessárias: aprender a viver bem para morrer bem, consigo e outros; aprender a passar por crises econômicas (qualquer brasileiro com mais de 20 anos já passou por uma, com maior ou menor nível de percepção); afastar-se das “mídias vampirescas-tóxicas”, evitando ser contaminada por ela, entrando em contato o mínimo possível; esconder a balança da casa e não se pesar até 2 meses após a quarentena; além de aprender a se divertir em casa (“Netflix”, filmes, músicas, livros, chocolate, vinho, comidas gostosas, jogos com os familiares, videogame, Sudoku e outros).

Afinal, a sabedoria é tão mais necessária quanto mais difícil for a vida do Indivíduo.

Dr. Bayard Galvão 
Psicólogo Clínico 
Presidente do Instituto Milton Erickson de São e de Hipnoterapia Educativa

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