sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Ser Lembrado


Viver feliz o presente ou ser lembrado por toda a eternidade?

Essa é a questão colocada no filme “Tróia” pela mãe de Aquiles ao seu filho com a idéia(mais ou menos assim):"Se você for a Tróia, morrerás jovem, e serás lembrado por toda a eternidade pelos seus feitos na guerra, se ficares aqui, casarás, terás filhos e serás feliz até os seus últimos dias, vivendo até a velhice", Aquiles opta por ser lembrado. Desconheço a idéia original de Homero, quem, teoricamente, teria escrito a ficção.

Entretanto, a proposta de reflexão permanece, aflora, ganha frutos na pergunta colocada por muitas religiões: você abriria mão da sua vida hoje por uma pós-vida prometida, mas nunca demonstrada, de ser eterno? Não parece realmente importar se existe vida após a morte, mas sim o desejo de que exista, a necessidade de afirmar para si que sem uma vida após essa, nada, ou pouco, tem sentido e significado.

A idéia de vida após a morte é absurda, mas o que importa é a necessidade, o desejo, de que isso seja real, e é isso que a torna plausível; a necessidade do não-fim.

Afinal, por que é importante não haver fim, ou ainda, por que o fim aterroriza tanto? Imagino uma série de respostas, mas talvez todas possam ser resumidas a uma: viver esses dias, esses anos, não é o suficiente! Aqui cabe a pergunta: mas quanto seria o suficiente?

Há várias maneiras, mais ou menos esbofeteadas, de como responder ou lidar com essa pergunta: acreditar na eternidade do espírito; ter filhos; dizer que o fim não existe, mas que é um caminho, transformação ou algo do tipo. Assim, a pergunta não é respondida, contudo, é escondida ou deixada ao lado.

Lembro-me de alguns anos atrás, eu estava assistindo a um desenho japonês de lutadores, eles não pulavam 2 metros de altura, eles voavam; eles não quebravam um pedaço de madeira com um soco, eles explodiam uma montanha com a energia dos seus punhos; eles não corriam 100 metros em 10 segundos, eles podiam se movimentar na velocidade da luz. Não haviam limites, a não ser suas imaginações, e assim, fugiam das possibilidades do real.

O real não é suficiente! Pelo menos ao se falar da vida média, pois a media(-cridade) é pouco, é preciso mais.

Esse é mais um dos comuns sofrimentos humanos. Numa música de Toquinho e Vinícius de Moraes, não sei se composta por eles, há uma frase, não sei se assim ou não, mas parece ser “a vida sempre tem razão”, desconheço o que eles queriam dizer exatamente, mas a reflexão é sólida, verdadeira.

Uma possível solução para isso tudo é buscar viver de tal maneira que caso encontremos o fim hoje (não haver arrependimentos me soa a ignorância ou arrogância, mas aqui não é o lugar para essa discussão), que seja presenciado com a sensação de que foi feito até então o possível, embora sabendo que ainda haveria muito por se experienciar. O fim, aqui, não é algo para ser en-frenta-do, mas apenas aceito.

Sobre ser lembrado... Bom, de que adianta ser lembrado se o indivíduo não estará presente para saber disso? Até porque muitos se preocupam em serem lembrados sem ao menos se re-conhecerem, ficando mais ou menos assim: façam por mim o que não fiz, pelo menos por enquanto
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