domingo, 31 de março de 2019

Educando Pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline

É preocupante a quantidade de pessoas desenvolvendo este tipo de transtorno.  Ainda preocupa mais quando escolas e profissionais da área de saúde mental têm recomendado aos pais certas atitudes a serem tomadas com os filhos e que contribuem com a formação desta difícil personalidade. Eu poderia aprofundar no quesito de ser efeito de parte de uma ideologia política e psicológica que começou a ser instalada nas escolas na década de 70, aprofundando na de 80 e piorando mais ainda posteriormente, mas não é o momento.

Escrever de maneira sintética sobre o viver é sempre complexo e demanda um certo esforço. Por isso, um texto mais longo foi necessário, apesar de ter tentado sintetizar uma série de ideias.

Pois bem!

Transtorno de personalidade é o nome dado a uma pessoa que tenha um conjunto de determinadas características psicológicas que dificultem a sua vida de maneira indireta, ou seja, maneiras de lidar com o mundo que não sejam necessariamente ruins num primeiro momento, mas sim num segundo; ou de maneira direta, como cortar o próprio corpo. Já um exemplo da forma indireta poderia ser um homem que nunca aceita ter errado, estando sempre com a razão. Isto não gera problemas diretos para ele, pois esta forma de ser eleva a autoestima e sensação de superioridade. Contudo, conviver com uma pessoa que tenha esta característica é difícil, facilitando o afastamento gradual dos amigos ou familiares.

O Transtorno de Personalidade Borderline é caracterizado pelos seguintes traços:

- Vitimização
Tudo que acontece de ruim na vida da pessoa é culpa de todos, menos da própria. Isso é uma péssima postura para a vida, pois apenas mudamos facilitando relacionamentos, superando dificuldades profissionais e nos tornando mais leves e pacíficos conosco quando nos perguntamos: onde Eu tenho falhado ou faltado? E não dizendo: como e quando os Outros estão falhando e faltando comigo?

- Oscilação brusca de humor
Para ilustrar o conceito, temos um indivíduo calmo ou alegre, mas "do nada", com uma leve frustração ou possibilidade de rejeição, passa a agredir ou se entristecer e, da mesma maneira que oscilou por comportamentos ou emoções ruins, volta para o normal.

- Distorção da realidade
Duas características de base neste sentido: distorção da percepção do que realmente aconteceu; e inverter o sujeito ou ordem de sequência do ocorrido. Exemplo: a mulher ouve que está fazendo um bom trabalho, mas ela entende isso como absoluta ironia, passando, portanto, a impressão de agressão, reagindo de acordo (o que pode estar certo, mas no caso desta pessoa, muitas vezes errado); um homem com o transtorno xinga o seu amigo, mas quando vai explicar o que aconteceu a terceiros, diz que o outro que o xingou.

- Alto nível de agressividade
A agressão verbal ou física é geneticamente prazerosa e gera alívio (basta lembrar do "Coliseu" ou filmes de grande bilheteria, que são quase sempre de "ação"). Isso posto, quando uma pessoa está ansiosa, triste ou com raiva, fica fácil agredir; e no caso da pessoa com este transtorno, é fácil assim o fazer.

Valendo comentar que há vitimizações altamente agressivas, como uma mãe com o transtorno dizendo entre lágrimas para uma filha de 19 anos: "você pode sair com as suas amigas como sempre fez, sem problemas. Vou ficar aqui sozinha, mas pode ir... Vou tentar achar alguém que me valorize."

- Baixo nível de resistência a frustrações ou potenciais rejeições
Se uma pessoa sem este transtorno for frustrada ou rejeitada, será normal ela ficar incomodada, mas quem tiver esta maneira de ser, tenderá a reagir de maneira intensa, seja com tristeza e/ou agressividade.

- Compulsão
Toda compulsão tem como base a busca desenfreada do prazer ou do alívio das dores da vida, seja comer, beber álcool, tomar calmantes, sexo, drogas em geral e até rezar.

- Autoflagelo
A agressividade pode se virar para si, seja cortar-se ou até cometer suicídio, por 5 razões básicas: diminuir uma dor emocional (provocando a dor física), querer receber atenção (por se sentir menosprezado ou desprezado), mostrar que está falando sério sobre os próprios sofrimentos, desafio-demonstração de capacidade de enfrentamento da dor ou apenas querer se machucar por achar que merece. Todos podendo ocorrer ao mesmo tempo ou não, facilitando inclusive, um vício pelo ato.

- “Ditadura da Culpa” como efeito comum
Porque a pessoa com este transtorno não se responsabiliza por si, mas sim às outras pelo seu próprio bem-estar. É normal que quando esteja bem, agradeça a si ou ao outro, contudo, sempre que estiver mal, dirá que a culpa é do outro, podendo até responsabilizar a si por alguns momentos, mas depois volta a responsabilizar aos outros.

Este processo pode gerar uma “Ditadura da Culpa” a quem costuma ser o cuidador da pessoa ao dizer: “se estou bem, você é responsável por isso”. Por outro lado, outra mensagem está subentendida nessa fala: “Assim, se eu estiver mal, você também é responsável, pois é você que tem que resolver meus problemas por mim”.  Podemos ainda derivar para um outro ponto, como: “estou mal e pensando em não viver mais por causa de dinheiro.’, mas o sentido subliminar ser: “sendo você responsável por mim, você poderia me auxiliar com o seu dinheiro”.
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Postas estas características, como será que alguém assim vai se relacionar com colegas de trabalho, em relacionamentos afetivos com familiares ou com quem ama e lidar com as frustrações ou rejeições na vida?

Será uma vida complicada, que facilmente piorará com a idade, pois tende a haver um acúmulo de mágoas ao longo do tempo, pelos erros que os outros (!) cometeram com ela, assim como demissões e afastamentos injustos das pessoas, tanto por não a aceitarem como é, como também não saberem lidar com a razoável (?) e bela espontaneidade (?) dela.

Assim, o prognóstico (expectativa futura do quadro apresentado) de alguém com este transtorno pode também gerar outros problemas, seja depressão e/ou algum quadro de ansiedade, facilitando, inclusive, o suicídio.

Remédios têm pouco efeito, embora sejam necessários, além de terapia “voltada para a solução de problemas” - o que pode parecer simples e óbvio, se não fossem algumas linhas da psicologia que não apenas dizem que as pessoas são imutáveis em suas maneiras de ser, como também são da forma que são como resultado da sua formação pessoal, contribuindo com a característica já exacerbada de "vitimização" e de que ela é resultado dos erros dos outros, não das próprias ações. Nesse sentido, é preciso cautela ao procurar profissionais e linhas de abordagem dos psicólogos.

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E de que maneira as propostas da educação atual estão facilitando e incentivando estas características nos filhos?

Excessiva proteção dos pais em relação aos filhos leva os mesmos a não aprenderem a se proteger na vida e/ou se dedicar de maneira intensa; seja a uma nota ruim ou ao fato de ter sido empurrado na escola por um colega. O ideal é a criança aprender a se defender daquilo que ela tem condições, como de outro colega um pouco mais agressivo ou de estudar mais para uma prova difícil. Ao invés disso, muitos pais passam a discutir com a escola ou tiram o filho da mesma porque “não estão usando um bom método para o crescimento do filho”.
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Muitos elogios e pouca ou nenhuma crítica. Uma criança que cresce achando que erra pouco ou nada, mas que é maravilhosa, bonita, inteligente, adorável e variações, terá dificuldade em se relacionar com as pessoas quando perceber que apenas os pais ou avós pensam assim, não os colegas, professores e futuros namorados ou namoradas, assim como eventuais chefes.
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Responsabilizar a escola pela educação do filho. É complicado dizer para uma escola: “você precisa educar o meu filho, mas não quero que ele seja punido por coisa alguma, não rode em matéria alguma, esteja sempre feliz com os colegas e sem exigir muito dele, além de ser necessário vocês entenderem que o meu filho é inteligente. Portanto, se ele não estiver aprendendo alguma coisa, é porque vocês estão errando em algo”.
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Querer ser muito amado pelo filho. Para ser amado pelo filho, basta dar tudo que ele quiser, nunca dizendo um “não” e sempre estar brincando, na companhia dele ou o ajudando em todas as dificuldades. Ora, fazer isso desprepara o filho ou filha para a vida como ela é.
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Ajudar o filho a estudar. Este é um aspecto complicado e apenas recomendável depois do filho ter tentado estudar sozinho, de maneira focada a matéria, Caso o pai ou mãe estiver sempre ajudando o filho a estudar, ele não aprenderá a se esforçar, de fato, para aprender ou se superar, o que é péssimo para o seu futuro. É melhor pecar pelo excesso de exigência do que pela falta.
Ainda, na medida em que os pais ajudam os filhos em tudo, eles não aprendem a confiar nas próprias capacidades, não desenvolvendo segurança neles mesmos, e sempre exigindo ajuda dos outros para lidar com os próprios problemas. E caso dê algo errado, o problema foi que não o ajudaram ou o ajudaram de forma errada, mas não que ele não se dedicou.
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Muitos “sins” e poucos “nãos”. A vida apresenta incontáveis “nãos”, mas a educação proposta é para dizer poucos deles, não preparando o indivíduo para a vida como ela é, mas sim para a fantasia de uma utopia de um viver de poucas frustrações, poucos esforços e muitas vitórias: uma contradição de base.
Uma variação deste mesmo tom foi não dizer “não”, mas sim “orientar”. Em outras palavras, era proposto aos educadores que fosse dito “você precisa estudar mais” e nunca “você está estudando pouco e se assim continuar, não passará ou repetirá de ano”. Nestes termos, novamente, a criança (futuro adulto) não aprende a lidar com as exigências normais da vida, e nem tampouco com críticas essenciais para o crescimento e mudança. O ideal seria ter os 2 comportamentos.
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Pouca punição e muita recompensa. A base de qualquer educação é simples: ao falhar ou faltar, punir na proporção do razoável; ao acertar e/ou se dedicar, recompensar numa proporção racional. A educação tem sido “dar tudo” que puder ser dado, sem condição alguma (como ir bem na escola), de maneira desmensurada e negando nada. O efeito é claro: a criança não saberá lidar com perdas, com exigências, críticas e frustrações, ou seja, não aprenderá a viver a vida como é.
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Não repetir na escola. Como uma criança pode passar de ano sem saber o minimamente suficiente para dizer que ela mereceu evoluir? É o mesmo que dar aumento a um funcionário que não tem entregue aquilo que é da sua função. Será que acontece isto na vida?

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Enfim, quer que o seu filho ou filha sofra menos no futuro?  Ensine-o ou ensine-a a lidar com a vida como ela é, não como ideologias românticas gostariam que ela fosse.

Dr. Bayard Galvão

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