sexta-feira, 26 de julho de 2019

AutoAjuda Vs PseudoAutoAjuda

Tive a sorte de ter um avô (que era psiquiatra) que estudou autoajuda desde a sua adolescência, sendo alguns de seus autores favoritos do assunto Sêneca, Montaigne, Diderot e Russel. Uma das reflexões que mais me impactou foi a do estóico afirmando: “faça o que de ti depende, de resto, seja apenas firme e tranquilo”.

Uma frase que muito me ajudou na minha história foi dita pelo meu avô quando fui morar por 1 ano longe da minha família e amigos: "tudo que você passar na vida, algum filósofo já passou, refletiu bastante sobre o tema e escreveu sobre ele".

Autoajuda é buscar se tornar médico do próprio espírito pelo estudo, é se tornar superior ao que se é; seja aprendendo a lidar com a própria morte e de quem amamos; a como ter sucesso profissional; se melhorar para ter um bom relacionamento amoroso; construir-se para ser um amigo melhor de si e outros; lidar bem com as traições, menosprezos e rejeições inerentes ao viver; buscar a felicidade onde ela, de fato, existe e/ou viver bem.

O problema é que muito da autoajuda moderna é um enorme punhado de mentiras e autoenganações, similares a “contos de fadas para adultos”; eis algumas: "aprenda inglês fluente em uma semana"(pois é, tente!); "leia um livro em 30 minutos” (será que existe uma diferença entre ler e entender o que foi lido? Com facilidade, eu leria um livro do Stephen Hawking sobre o universo em 1 ou 2 dias, mas para entender demoraria semanas, meses ou anos); "aprenda rapidamente e profundamente  'X' ” (seria possível um indivíduo ser um médico de mérito com 1 ano de estudo?); "todos são capazes de ser o que quiserem na vida!" (quantos querem ser Pelé e quantos conseguem?); "todos são superdotados em alguma coisa!" (todos somos “Beethovens” em alguma área da vida, embora não saibamos ainda?); e tudo isso com "pouco esforço e rapidamente".

A autoajuda real é aquela que inspira as pessoas a verem o mundo como é & aprender a lidar bem com ele. Dentro deste conceito, precisamos aprender a aceitar que talvez não sejamos excelentes em coisa alguma, embora muito bons em 1 ou 2, bons em 3 ou 4, e medíocres ou sofríveis no resto.

Se é preciso frequentar uma faculdade para aprender a ser bom em direito, administração ou engenharia, por que seria diferente no viver? Aprender a viver bem pode ser estudado em livros realistas e razoáveis que, por vezes, dirão: “você quer ser um excelente músico e pagar as suas contas com isto, mas pouco se dedica ou tem o talento genético para a coisa, portanto, 2 opções: ou você começa a se esforçar muito mais, ou desiste de viver financeiramente disso e busque algo que lhe sustente economicamente minimamente, e que você tenha talento suficiente para isso”.

Não busque os seus sonhos, mas questione-os, veja o quão realizáveis são, quantos anos de vida lhe exigirão, e qual ou quais benefícios tenderão a trazer, de fato. Caso você perceba que não os atingirá ou não valem tanto da sua vida, é preciso aprender a abrir mão deles e tentar se dedicar àquilo que você é realmente capaz de conseguir e que lhe faça bem. E disse Sêneca: “faça o que de ti depende, de resto, seja apenas firme e tranquilo”.

Afinal, sabedoria é entender a realidade como é e lidar bem com ela, dentro do razoável; e não nascemos com ela e nem vem fácil, contrário ao que escritores de "contos de fadas para adultos" dizem.

* Dr. Bayard Galvão

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