terça-feira, 27 de agosto de 2019

Adolescência Suicida?

Suicídio é o último ato na vida de alguém, é um ato de desespero, ou seja, sem esperança de dias melhores, mas sim de similares ou piores. Uns chamam de coragem e outros de covardia. Há quem afirme que a quantidade de suicídios em adolescentes está crescendo, ou apenas a descoberta e divulgação que aumentou? Independentemente, vale a pergunta: será que a sociedade brasileira tem contribuído para jovens terem esta atitude? E teria como diminuir a probabilidade dela ocorrer?

Estamos assistindo a uma época de aumento de competição no mercado profissional; à diminuição de empregos (não acredito que estejam aparecendo novos empregos na mesma velocidade que estejam desaparecendo, basta estudar por alguns momentos a plataforma de inteligência artificial “Watson” da IBM e os impactos nos profissionais que estão “perto” dela); os relacionamentos estão mais complexos e menos duradouros; ser “bom homem” e “boa mulher” ou “bom pai” e “boa mãe” de hoje em comparação há 50 anos, é senão muito difícil, impossível; os familiares estão morando mais longe, diminuindo a sensação de proteção, pois as pessoas precisam buscar trabalho onde tenha, o que infelizmente (ou não) pode ser longe dos pais, avós e outros familiares; e estamos apenas presenciando o início do impacto da vida virtual em crianças e adolescentes, em que muitos acabam preferindo a relação distante e superficial através das telas de computador a contatos reais, gerando um “autismo ensinado”.

Para completar o quadro, estamos vivenciando um aumento de expectativa com relação ao conceito de sucesso, mas sem dar os instrumentos para isso. É pouco ser um bom aluno na escola, é preciso ser “fitness” e “ecológico”, além de ser líder e aprender uma terceira língua.

Em que medida a educação está sendo conduzida para as crianças se tornarem adolescentes que lidarão bem com estas mudanças? Será que os adolescentes estão aprendendo a enfrentar um futuro tão exigente e instável quanto o que é e será?

Os pais atuais são incentivados a serem excessivamente protecionistas (protegendo a prole do que ela conseguiria aprender a se proteger), não exigirem das crianças (se for mal na escola, “passa” de ano mesmo assim), punirem pouco ou nada (punição é mal vista, importante é motivar pelo prazer-felicidade as crianças e adolescentes a “estudarem”), elogiarem muito (dando a impressão que seriam especiais fazendo pouco, quando assim o é apenas dentro de casa) e buscarem ser amados pelos respectivos (para os filhos valorizarem os “nãos” dos pais, limites e punições, é preciso uma maturidade que não tende a ocorrer antes dos “30”), e sempre com amizade e com pouca autoridade.

Os efeitos nas crianças e jovens são visíveis: baixa capacidade de frustração, ficando muito irritados, impacientes e até depressivos ao se depararem com a realidade fora de casa; não saber ouvir “não”; pouco ou nada respeitam autoridades; se acham superiores a outros; pouco se preocupam com outros; não confiam nas próprias capacidades até por nunca ou pouco tê-las colocadas à prova; dificuldades em se concentrar nas atividades que não gostam; preguiça em se esforçar com rigor e um “autismo aprendido”, dificultando relacionamentos. Isso tudo funciona num determinado nível até uns 12 ou 13 anos de idade, mas e depois, quando a vida exige mais?

O desdobramento da formação destas ideias na cabeça dos jovens culmina numa sensação de que a vida é muito pesada e que pouco ou nada pode ser feito, podendo provocar tristeza, ansiedade e até pensamentos suicidas. Facilitando inúmeros quadros clínicos psíquicos de sofrimentos.

É preciso rever o que é uma boa educação, e certamente consiste na formação de algumas capacidades indiscutíveis: aprender a se esforçar; lidar com rejeição; dedicar-se ao que não dá prazer, mas que é necessário; entender que será especial para poucas pessoas na vida; respeitar as pessoas, independentemente de quem sejam, embora sem esquecer de valorizar a si; ao mesmo tempo compreendendo que muita gente diz bobagem, seja na escola, tv, internet, seriado ou música e que dependerá dela & educadores refletirem e questionarem sobre estas bobagens.

Afetividade, elogios e brincadeiras são essenciais; assim como críticas, exigências e saudáveis punições.

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