sexta-feira, 18 de outubro de 2019

"Autismo Aprendido"


Utilizo a expressão “autismo aprendido” por ser um conjunto de comportamentos e posturas aprendidas que tenho observado em um crescente número de crianças e jovens adultos com específicos gostos-valores-crenças que os levam a se interessar pouco em se relacionar com outras pessoas. Causas para isso sempre existiram, comumente provocadas por fontes de prazer que não exigiriam relações sociais desde uma idade muito precoce (menos de 1 ano de idade); podendo ser música, desenho, pintura ou esportes.

Há uma nova e enormemente maior causa para o “autismo aprendido”: o mundo da internet. Este “universo virtual” oferece drama, ação, jogos, filmes, incontáveis atraentes seriados e relações sociais virtuais de pouco prazer, baixo atrito e com pobre complexidade. O efeito é um prazer constante em que um contato social real não é necessário, nem sonhado e tido como pobre.

Assim, cria-se o ciclo de retroalimentação do “autismo aprendido”: ao viver no mundo virtual onde há muito prazer, pouca rejeição e incontáveis horas de distração; e ao ficar muito tempo ali, tendo poucas reais interações sociais, sendo limitadas por vezes a momentos de alimentação (seja em casa ou na escola), frequentar a escola ou reunião de familiares; pouco a pessoa aprende sobre lidar com críticas, frustrações, ter que ser minimamente agradável para poder ser feliz e reconhecer que é inferior a uma ou outra pessoa em termos de maturidade, inteligência ou diferentes conhecimentos. Isto tudo acontecendo, as interações sociais se tornam cada vez menos agradáveis ou até desagradáveis, restando o mundo virtual como a maior fonte de prazer e distração; para onde, assim que puder, voltará; retroalimentando o ciclo do “autismo aprendido”.

Experiências como amizade, namoro, sexo e divertir-se com outros ganha pouco valor no “autismo aprendido”, tanto pela imaturidade social como pelo fato de reconhecer no universo virtual uma opção melhor, mais divertida.

Não poderia ser dito que este “autismo aprendido” seria algum tipo de doença ou psicopatologia por não necessariamente gerar dor na pessoa que o aprendeu, sendo, na realidade, o oposto, pois o prazer seria até mais constante com menos desconfortos no dia a dia do que o viver presencial com outras pessoas. Entretanto, no momento em que este indivíduo chegar ao final da adolescência e início da vida adulta, entrando em contato com a necessidade de se relacionar frente a frente com outros na busca de um emprego ou até ir para uma faculdade, encontrar-se-á num ambiente no qual tem pobres recursos para lidar com a complexidade das relações humanas gradualmente aprendidas pela maioria das pessoas que não viveram “dentro” do universo virtual nos seus primeiros “20” anos de vida. 

Dentre os tantos caminhos possíveis de quem desenvolveu este “autismo aprendido”, há 3 comuns: (1) buscar uma profissão que mantenha o viver neste universo virtual, como trabalhar essencialmente com computadores, mantendo o "autismo aprendido", geralmente, em menor grau; (2) sofrimentos constantes com sensações de desespero e inadequação no processo de se relacionar socialmente e, gradualmente, aprendendo a saborear o contato com outras pessoas, criando a possibilidade de relacionamentos profundos e existencialmente significativos, superando o "autismo aprendido"; e (3) oscilar entre isolamentos sociais intercalados por exigências vitais de estar com alguém para poder se sustentar financeiramente e-ou cumprir minimamente com expectativas sociais, seja ir a um natal, “happy hour” ou variações; sofrendo, geralmente, pela inabilidade de se movimentar nestes contextos.

Na eventualidade de um pai, mãe ou educador estar preocupado com o filho ou filha em desenvolver um “autismo aprendido”, proponho um limite de horas diárias de diversão ou uso do universo virtual, não excedendo “6” horas, sobrando 10 horas para se relacionar com outras pessoas, fazer esportes ou outras atividades, não circunscrevendo a própria vida à “realidade virtual”.

Nenhum comentário: