sexta-feira, 6 de junho de 2008

Vidas Anestesiadas...

"Eu sei que estou mal, mas me sinto bem!"

Não me lembro de ter ouvido uma frase mais clara, sintética e simples sobre os efeitos dos antidepressivos. Até imagino alguém chegando ao médico com a perna recém quebrada, apenas recebendo anestésicos. Não diferente é, muitas vezes, o processo da psiquiatria quando desprovida de uma busca de possíveis, e prováveis, causas psíquicas das dores no espírito.

Um casamento mais amargo do que saboroso por meses ou anos pode gerar depressão ou ansiedade, o mesmo podendo ocorrer num emprego ruim ou excessiva solidão, mas a dor dessas situações pode desaparecer com o uso de remédios psiquiátricos, facilitando e permitindo a continuação da situação presente.

O Ser Humano, por instinto, foge da dor, e se não conseguir fugir, tende pelo menos a refletir sobre ela, e se fizer bem esse exercício, a supera, daí a frase "cresce-se na dor". Ora, posto isso, e tirada a dor psíquica, poucas pessoas buscarão curar suas vidas ao não terem dores.

A dor é sempre ruim, mas é a melhor das indicações de que algo vai mal. Sentimentos dolorosos como tristeza, ansiedade, ciúmes ou medo, apagados ou diminuídos, facilitam uma alienação sobre a própria vida.

Entretanto, remédios psiquiátricos não são a única maneira de se alienar de si mesmo, e Pascal disse bem há quase 4 séculos:

"A única coisa que nos consola de nossas misérias é o divertimento, porém, é a maior de nossas misérias, pois nos impede de pensar em nós mesmos".

Divertir-se é fazer/pensar em outra coisa, no caso, que não seja na própria vida, valores, significado e sentido, o que ocorre ao se preocupar apenas com filhos, cônjuge, trabalho, política, assistir a filmes ou músicas.

Dos que conheci que cumpriram seus ciclos naturais que melhor aceitaram seus fins, foram os que viveram bem, muitas vezes com anestésicos, mas nunca deixando de questionar, conhecer a si e às suas buscas de maneira rigorosa, e muitas vezes dolorosas.

Para viver bem é necessário refletir bem, mas esse exercício, não incomumente, se torna uma areia movediça, onde mais se mexe, mais se afunda.

Saborear bem a realidade como é, é possível, não fácil, não doce a todo o tempo, mas sempre com o sabor divino de uma natureza que não erra, nem acerta, apenas é como se apresenta, dependendo de cada um lidar da melhor forma possível com ela, alterando a natureza do próprio espírito se for considerado nobre, livre e justo, por si mesmo, para quem quiser.

Anestesias são importantes, mas também a-morte-cem o viver.

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