quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Crueldades Digestíveis


“Os meus pais deveriam ter feito mais.”

“As pessoas deveriam ser mais justas.”

“A vida deveria ser mais fácil.”

“Os professores deveriam ensinar melhor.”

“Os políticos...”



Até onde buscar mudar? O que depende de cada um?

Por não conseguir lidar com o mundo como é, fugas são criadas, desde o apego desenfreado a religiões, drogas ou bebidas, trabalho excessivo, remédios psiquiátricos e chegando até ao suicídio.

Parece que Nietzsche em determinado momento afirmou que devemos amar o que não se pode mudar, talvez seja mais fácil e até mais Humano, apenas aceitar as coisas que não podem ser mudadas como são, também buscando diferenciar o que pode ser mudado por si ou não e até onde vale pagar o preço para gerar o movimento.

Porém, certa vez ouvi:
- “A minha felicidade depende do bem-estar da minha família, minha mãe é vagabunda, meu pai é alcoólatra, minha irmã é extremamente agressiva e o meu irmão é dependente químico e criminoso”.

Ora, em teoria esta pessoa poderia mudar a vida de todos, para tanto, poderia buscar um padre, psicólogo e/ou psiquiatra, e/ou fazer essas faculdades, abandonar sua vida fora de casa e dedicar toda a sua existência ao estar bem de pessoas que não se preocupam o suficiente com as próprias situações.

Essa idéia, aparentemente, seria defendida por Saint Exupéry no célebre romance “O Pequeno Príncipe” através da frase “Você é eternamente responsável por quem você cativa”, realmente não sei se ele defendia esse conceito moral ou se seria apenas a fala de um dos personagens, mas quem quer que acredite nisso está ferrado de lado a lado, tornando-se ou um bruto para cativar ninguém ou um cidadão condenado a viver a vida do outro, sentindo-se eternamente culpado por se pensar responsável por isso e não conseguir resolver muitas coisas.

Por uma mera questão de sobrevivência, penso que primeiro precisemos aprender a cuidar bem de nós, depois de quem quisermos, seja por justiça, amor, ética ou alguma outra razão que pareça razoável.

Para aceitar a realidade como é, uma possível forma, pelo menos a que uso, é aprender a aproveitar o que os momentos cotidianos têm a oferecer, por mais que sejam menos intensos e freqüentes do que (muitas vezes) gostaríamos.

Então, uma das virtudes mais importantes de serem aprendidas para viver bem é estabelecer expectativas realistas e saboreá-las na intensidade que a realidade permite, e se precisar, vez ou outra, saborear de maneira bem temperada com vinho e afins, aliás, por que não?

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