sábado, 19 de fevereiro de 2011

Interesses, Percepção, Realidade e Humildade

Interessa tudo que trouxer algum tipo de benefício.

É benéfico o que traz prazer, alivia ou evita um desconforto e que seja moralmente correto, de acordo com o indivíduo.

dois tipos de valores: afetivos (o que traz prazer ou dor) e morais (o que é tido como certo ou errado, segundo critérios específicos da moral do indivíduo).

Percepção é a leitura do que fazemos de nós, outros e do que nos rodeia. Elas incluem valorizações ou estimações aprendidas durante a vida, ou seja, uma pessoa é bela (inspira prazer) fisicamente ou psicologicamente segundo o que se aprendeu a valorizar.

Realidade são as coisas e seus movimentos, incluindo pessoas, atitudes, sentimentos e pensamentos.

Uma pessoa nunca é, de fato, amada, mas sim a percepção que se tem dela. Portanto, o que acaba governando as emoções é a leitura das coisas, associada aos valores/ aprendizagens/ experiências que formamos ao longo da vida.

As derivações dessas idéias são inúmeras, e uma delas pode ser baseada na pergunta: quando a percepção da realidade vai contra o interesse, qual a prioridade, entender as coisas como são, adaptá-las ou distorcê-las segundo os interesses?

Exemplos:

- uma funcionária é demitida, o que é prioridade: entender o que a levou a essa situação, incluindo próprios erros, ou diminuir a dor da coisa, responsabilizando chefe, colegas ou contexto sócio-econômico-cultural-histórico...?

- um homem ou uma mulher é rejeitado, qual a prioridade: entender como chegou nesse ponto e qual a própria responsabilidade, ou estabelecer uma percepção que beneficie a pessoa rejeitada, distorcendo os fatos, atos e demonizando o outro, diminuindo-o e se dando ao direito à possibilidade de se vingar sob a bandeira da justiça rigorosamente distorcida para caber no bolso das vaidades e interesses?

- um garoto de 25 anos da classe média não gosta de estudar e nem trabalhar, ao ser cobrado pelo pai, qual a prioridade: reconhecer a própria preguiça e irresponsabilidade ou apenas passar a “culpa” para o pai e mãe que o superprotegeram, criticaram ou elogiaram em excesso, criando a situação atual?

- uma mulher está provavelmente sendo traída, qual a prioridade: descobrir a verdade e ter que tomar atitudes difíceis, ou dizer para si que o batom na camiseta, perfume feminino na roupa do marido, cabelo molhado ao chegar em casa à 01:00 e gasto de R$500,00 da respectiva noite se refere a um jogo de futebol que se estendeu durante o churrasco?

A verdade vai, muitas vezes, contra os próprios interesses, nesses momentos, a adaptação ou distorção da percepção comumente entra em campo e a verdade se perde. Aqui não mais existe quem o outro é ou fez, mas apenas a percepção mais adequada ao próprio bem-estar, nem que esta seja embasada numa pseudorealidade, pois acaba valendo mais uma agradável mentira de si para si ou outros do que a cruel realidade.

Dessa maneira, as pessoas não se tornam mais lúcidas, nem mais verdadeiras e nem sábias, apesar de gostarem mais do que vêem no espelho, pois caso vissem, realmente, seus erros, limitações e feiúras, não conseguiram se orgulhar tanto de si.

O conceito de humildade vem da palavra "Humus", ou seja, terra, o indivíduo humilde é aquele que pensa com os pés cravados e movimentados na realidade, é quem admite os próprios erros, pequenezas e grandezas, é quem percebe as suas vitórias e não toma para si o mérito que é de outro.

Humilde é, enfim, o homem ou mulher realista, que não quer para si os méritos das vitórias que são do outro, nem atribui as próprias derrotas e falhas ao outro. Portanto, humilde é quem vê a realidade como é, nem além, nem aquém.

Humildade é para poucos, pois a percepção da realidade vinda depois dos interesses é para a maioria.

Um comentário:

Vicentin disse...

Muito Bom Bayard, Realmente plantar uma mentira é muito mais fácil do que encarar a realidade. A mentira ou a distorção da realidade atende muito bem os requisitos de fugir da dor e buscar o prazer,
Obrigado pelos textos.