sábado, 5 de março de 2011

Ditadura da Vítima

Vítima é a pessoa cuja situação em que se encontra é ruim e não provocada por ela.
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Há dois tipos de problemas que enfrentamos na vida: aqueles que plantamos e aqueles que plantaram por nós ou para nós. Contudo, independentemente de quem tenha plantado, caso queiramos viver fertilmente, é responsabilidade de cada um superar o fruto colhido.
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Comecemos pelo menos frequente, aqueles que plantaram por ou para nós. A diferença entre um e outro é que um contém ignorância no ato (por), e o outro contém finalidade (para), sendo esse segundo de base na nossa construção ou destruição, diferenciando assim o amigo do inimigo.
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Há mães e pais superprotecionistas ignorantes sobre os efeitos reais de seus atos. Querendo a felicidade dos filhos ou se desculparem por trabalharem e/ou terem outras atividades que os afastam deles buscam resolver os problemas de sua prole, incluisve dando tudo o que eles pedem, provocando comumente os seguintes problemas: incapacidade de lidar com as próprias dificuldades no futuro; insegurança sobre o que seriam capazes de fazer, pois sempre fizeram tudo por eles; terem a si mesmos como frágeis por nunca terem descoberto a força de enfrentarem dificuldades por eles mesmos; acharem que pouca atividade ou esforço já traz muito resultado, tornando-os imediatistas e preguiçosos para tarefas que exigem esforço, como serem um profissional de mérito em qualquer área, resultado esse sempre fruto de muito esforço, e depois de alguns anos. Isso facilita inclusive a dependência química, onde o esforço é quase nulo e o prazer imenso, basta "cheirar" para ter intenso prazer.
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Sobre os problemas intencionalmente provocados por alguém para nós, a finalidade pode ser nos fazer bem através da dor ou mal, diferenciando assim amigo de inimigo, o que pouco vem ao caso agora.
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Posto isso, vamos ao maior provocador de problemas que temos na vida: nós mesmos.
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Esse assunto pode ser abordado a partir de vários escopos, usemos aqui a idéia de ganho ao se colocar como vítima do mundo.
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Ganhos comuns:
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- Sou vítima, portanto, não responsável pela minha situação.
Embora esse conceito seja parcialmente verdade, há uma base de potência viril: cada um precisa se tornar responsável por sua saúde mental, independente do que acontece na própria vida. Não é porque alguém sofre que deve se tornar passivo frente si.
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Ser irresponsável gera, no mínimo, o não golpe na própria vaidade por não ser dono da própria situação que gera o sofrimento. Ficando assim: vivo mal, mas pelo menos não fui o gerador da coisa.
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- Sou vítima, preciso e mereço acolhimento e atenção.
A verdade é que algumas pessoas não receberão atenção por serem muito chatas, mas se elas estiverem sofrendo, a idéia de culpa nos familiares e conhecidos os farão procurá-las, ou seja, não será por mérito de ser um indivíduo simpático, mas motivado pela moral ou até mesmo porque o outro se alimenta de seu sofrimento (não entrarei no questionamento aqui, mas há pessoas que gostam de cuidar de doentes, pois se sentem úteis e bons, afinal, dedicam-se a outros).
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- Porque sofro, meu pouco vale muito!
Para quem é bem sucedido na vida, a idéia de receber aplausos ou reconhecimento é bastante incomum, pois apenas feitos maiores ainda serão dignos de reconhecimentos, contudo, para um alcoolista, basta não beber uma semana que já recebe estrondosa ovação.
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- Sofro, então sou puro e bom.
O cristianismo defende a máxima de Jesus, morrer pelo outro, mesmo que seja através da tortura. Ora, para alguns cristãos o conceito é válido: purificar-se, melhorar-se através da dor. Então, maior o sofrimento pelo qual alguém passa, mais purificado está. Alguém poderia contra-argumentar que se colocar como vítima é um valorizar a si em excesso, sendo portanto, um pecado, o da vaidade ou orgulho, o que seria verdade, mas poucos chegariam a essa conclusão por si.
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Vale lembrar que Jesus, todos os santos, anjos e afins, estão nas pinturas e estátuas com expressao facial de piedade, dor, misericórdia e/ou resignação, que é exatamente o que os torna bons. Não há expressão de alegria nem inspiração para enfrentar a vida com vitalidade e firmeza de espírito.
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- O prazer de ver a si como vítima.
Uma mulher anoréxica pode ter prazer ao olhar no espelho e conseguir contar as costelas pela sua magreza. Esse não seria um prazer inspirável no DNA, como o prazer ao ser tocado ou se alimentar de algo doce, seria um prazer aprendido. Será que o mesmo não acontece com chorar e olhar a si com piedade? Confessando a si que é prazeroso estar naquela situação.
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- O governo do outro através da própria vitimização.
Faça o que eu quero ou me mato! Estou triste, se você exigir demais de mim, eu me mato! Estou com depressão, se você me pressionar, ficarei pior e poderei me matar! Você me cobra e me critica, se continuar assim, piorarei e a culpa será sua. Já teve gente que enlouqueceu, ficou drogada ou se matou na nossa família, o mesmo poderá acontecer comigo se vocês continuarem a me pressionar.
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O problema dessa ditadura é que, de fato, o indivíduo pode acabar com a sua vida se for demasiadamente exigido, então os familiares e conhecidos sempre andarão "sobre uma navalha", se exigirem demais, o indivíduo pode se matar, se exigirem pouco, ele poderá fazer nada, não há solução fácil, apenas possibilidades de como conduzir uma situação dessas.
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Enfim, há muitos ganhos se colocando como vítima, sendo inúmeras as maneiras através das quais alguém pode fazer isso.
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A vida é mais pesada para alguns do que para outros, a solução que proponho é simples: você tem todo o direito de sentir pena de si e lamber suas feridas por até 30 minutos por dia, depois, coloque sua espinha reta e pés cravados no chão. Olhe os problemas de frente, acolha-os, resolva-os na medida em que for possível naquele momento e siga em frente, lucidamente, levemente e firmemente.
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Então, a vitimização traz comodidades, mas não uma vida de fertilidade, o que é possível apenas com o próprio esforço e mediante responsabilidade pelos próprios atos.

Um comentário:

Anônimo disse...

OIBAYARD, ADOREI AS SUAS PALAVRAS REALMENTE AS PESSOAS SENTEM PENAM DE SI MESMAS