segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ignorâncias do Sagrado


Sagrado é o que não deve ser tocado e sim admirado. Contudo, o que o ser humano considera sagrado é criação ou visão dele mesmo. Ficando assim: cria-se a idéia de algo intocável e admirável, depois ninguém deve tocar nisso. Em si, é um conceito com uma grave falta, como não poder mais tocar algo que foi tocado e criado por si? O conceito se torna assim dogmático e desnecessariamente limitado.


Algumas coisas tidas como sagradas pelo ser humano: deus, amor, amor de uma mãe pelo seu filho e reproduzir. Cada um desses, uma vez percebido naquilo que o sustenta, perde a sua sacralidade, e se torna humano, humilde (de húmus, terra, ou seja, pensar quão longe se quiser, mas sempre com os pés cravados no chão, no real).


Analisemos brevemente:


Deus


Quem se pergunta sobre quem seria Deus (se é que existe) e quem se pergunta: qual a sua função na sua vida? Jesus disse (segundo o novo testamento) de diferentes maneiras que quem não acredita nele está cometendo um grave erro. Ora, por que ele necessitaria da crença de alguém, ele sofreria se não acreditassem nele ou no “seu pai”, que deus seria esse que sofre ao não ser reconhecido ou receber as preces de sua criação? Seria ele tão solitário ou carente que dependa da reza de cada um? Então, teríamos sido criados para amá-lo porque ele precisaria disso ou estaria só? E quem não fizesse isso queimaria no inferno por toda a eternidade? Seria deus tão vaidoso que precisasse se sentir amado para então querer o bem dos seus filhos?


Ainda, a idéia de deus nas religiões costuma responder às seguintes idéias: de onde viemos? Para onde iremos? O que fazer entre o início e o fim da vida? Como lidar com as dores do viver? O que é o certo e o que é errado? Como entrar no paraíso e ter uma bela vida pela eternidade? Como evitar sofrer por toda a eternidade no inferno? E assim por diante... E se os deuses da atualidade não respondessem a essas perguntas, quem se preocuparia com eles?


Amor


Há duas definições básicas para amor, uma cotidiana do tipo “gostar intensamente de alguém” e outra que é uma variação de Aristóteles como “buscar o bem do outro em prol do outro”. Independentemente de qual seja, há uma ou mais causas para tanto. Ama-se o belo segundo os olhos de quem ama. Então, sem beleza (aquilo que inspira prazer, seja em qual forma for) não há amor, mas a beleza é sempre segundo um indivíduo, então, essa é a condição para ser amado: ser belo.


Amor de uma mãe por um filho


O bebê nasce, a mãe ama o quê nele? O caráter? As idéias dele? As vitórias de vida dele? A inteligência? A beleza do nariz ou boca? Será que foi por amor à criança que a mãe decidiu ser mãe, ou foi uma decisão de base “umbiguista”? As causas mais comuns para uma mulher ou homem quererem ser pais são: ao não saberem o significado que querem dar às próprias vidas, criam outra; precisam se sentirem importantes, afinal, uma das mais intensas e viscerais emoções de ser mãe é saber que o próprio corpo gerou um ser e que esse precisará do corpo dela para sobreviver, o que trás uma forte sensação de importância e de ser especial para alguém, tornando esse alguém belo(!) por lhe trazer a sensação de sentido existencial; medo de envelhecer sozinho; medo de ficar sozinho; não saber o que fazer com a própria vida; fechar os buracos do relacionamento vivido; moral cultural; sexo descuidado; querer fazer um amigo (raro esse!); manter o nome da família e prolongar a própria vivência através da prole.


Enfim, todo sagrado contém sua causa, uma vez violado ele e descoberta ela, vale a pergunta: será essa uma causa que quero para tornar algo sagrado ou dar sentido à minha vida?


O conceito de sagrado dificulta o questionamento, o entendimento, a compreensão do que fazermos com o nosso viver, com a nossa liberdade de espírito da atividade das nossas entranhas e suor e lágrimas e alegria.


Melhor do que o sagrado em si seria “o que eu decidi tornar importante!” ou “tenho nada como fundamental para a minha existência que eu não tenha criado ou aceito”.


Enfim, eis o que crio como sagrado, para mim: Liberdade de Espírito para questionar tudo que orientar o meu esforço diário, uma vez questionado, perguntar-se, de fato: segundo as minhas idéias, que sentido eu quero criar para a minha vida?


O significado da vida não é algo a ser buscado ou achado, ele não está debaixo de uma pedra ou em alguma esquina da vida, é como um quadro branco para pintar, quem dará significado a ele, quem dará as suas cores, a sua imagem, a sua beleza ou tristeza, a sua realidade ou fantasia, é o indivíduo.

Nenhum comentário: