sexta-feira, 13 de abril de 2012

Uma UTI segundo Este Paciente

Esse texto será menos didático do que os outros, se é o que os outros assim o foram...

10 dias de UTI (precedida por menos de uma hora de PS) mais 5 dias de quarto de hospital com 35 anos de idade (do indivíduo em questão) e uma doença com 95% (disseram alguns médicos) de probabilidade de morte e fora da coisa há 14 dias... Eis a verídica situação de hoje, minha...

Quando entrei na UTI piorei e fiquei alienado, com momentos de lucidez, por 3 dias, o que parece ser normal, afinal, pouco oxigênio no cérebro tende a não ser bom para pensar... a isso se pode somar as dores, remédios, doenças e surpresa de estar numa situação dessas...

Num determinado momento me levaram, após 36 horas de UTI, para o quarto que chamei de pré-morte... Todos vivemos nessa situação, contudo, uns parecem (era o meu caso, sob diferentes aspectos) estar mais perto do fim que outros... Em volta de mim tinha uma fisioterapeuta, uma enfermeira, e dois ou três médicos, estavam preparados para me dar um remédio que poderia me matar (99% de probabilidade de acordo com um médico, acho que ele exagerou, mas ok, e 100% se não tomasse o remédio, ok também) ou dificultar o meu fim naquele momento (restante da porcentagem), afinal, eu poderia ter parada respiratória, hemorragia e todas as incomodações possíveis de "derreter" algum órgão. Com o acesso ao meu coração através do braço esquerdo, injetaram o remédio-veneno, que fundiu um enorme coágulo no coração e outros pelo caminho... Porque aqui escrevo, fiz parte do tal do 1%...

Bom... Fiquei bem desperto por 7 dias vendo muitos outros pacientes na cama sedados (na UTI fiquei em quartos com 4 ou 8 pacientes à beira do fim, sempre acompanhados por até 2 assistentes de enfermagem) e outros semi-acordados (eu pedi para tomar Nenhum calmante ou algo que o valha desde quando tive condições de decidir algo desde o fatídico dia do bendito remédio), então, vi o que restava do corpo e espírito humano quando já não se é quem era, quando já não se pode o que podia, quando viver era uma ameaça maior do que antes, ou pelo menos mais clara...

Tive o sabor de Uma Constatação Existencial: Basta Estar Vivo Para Morrer! Não importa a idade ou saúde (uma semana antes da UTI estava fazendo esporte 4 vezes por semana, evitando comidas gordurosas e frituras, apesar dos bons ou excelentes vinhos e charutos que desfrutava)...

Confirmei o que muita vezes li em Sêneca e Nietzsche: é preciso aprender duas fundamentais verdades (segundo as "Minhas" idéias) sobre o nosso fim: é preciso viver bem (atividade complexa e exigente) até lá, ou ali, e o que não for mutável é preciso ser aceitado, apesar de não desejável, por vezes.

A confirmação foi aparentemente simples, como muitas coisas óbvias e/ou verdadeiras da vida. Falar sobre o quase fim é diferente de saboreá-lo, mas mais rico para o viver de alguns, dependendo de como pensam sobre a coisa e se conseguirmos postergá-lo. 

Um comentário:

Anônimo disse...

BAYARD, REALMENTE PARA MORRERMOS BASTA ESTAR VIVO, POR ISTO CONCORDO QUE PRECISAMOS VIVER BEM CADA MOMENTO- ADORO SUA COLOCAÇÕES E SUA SENSIBILIDADE