quinta-feira, 26 de março de 2020

A Cura da Pandemia Psicológica Despertada Pelo COVID-19 – Parte I

A Cura da Pandemia Psicológica Despertada Pelo COVID-19 – Parte I

Relutei em escrever este texto, pois bem sei da dor de tocar em alguns aspectos existenciais que, certamente, são origens de sofrimentos similares ou iguais da maioria dos indivíduos do planeta.

Permita-me algumas explicações no que se refere ao título: coloquei a palavra “cura” tanto na sua etimologia (“ato de cuidar”) quanto no sentido cotidiano (resolver as causas de uma doença); usando também a palavra “Pandemia” (“que afeta todos povos”); salientando que “doença” vem de “dor”; e “despertar” é o ato de acordar o que estava dormindo.

O COVID-19 despertou dois conjuntos de medos (ou fobias), e deixou apenas mais claro dois outros: (a) medo da própria morte (seja por qual razão for); (b) medo do fim de alguém (seja por amá-lo, depender dele, sentir alguma culpa na eventualidade dele morrer e outras possibilidades); (c) medo do sofrimento que pode preceder a morte e (d) preocupações econômicas, respectivamente. Neste texto, falarei apenas dos dois primeiros.

Com a finalidade de elucidar as próximas ideias, faz-se relevante lembrar uma regra para todos os desafios do viver: dedicação para atingir determinado objetivo (seja evitar uma doença, erradicá-la ou curá-la); e estar pronto, dentro do possível, para o fracasso. Postas as ideias acima, peço tolerância por abordar de maneira objetiva sofrimentos comuns afastados por muitos nos seus cotidianos.

As curas em questão seriam aprendizagens que levariam o indivíduo a lidar bem com a própria morte e a do outro. Estes remédios ou vacinas são procurados-criados desde o início da humanidade, tanto pensando para onde iremos após chegar o nosso fim, como refletindo acerca de como superar os sofrimentos de perder alguém para a morte, neste caso. Cada religião, da sua maneira, respondeu a estes sofrimentos, como filósofos, poetas, crianças e os diferentes artistas.

Não há a maneira correta de lidar com a morte, cada um precisa criar ou descobrir a sua; e tal qual como um remédio para dor de cabeça que funciona com algumas pessoas e não com outras, o mesmo vale para reflexões acerca da finitude.

Para lhe auxiliar a criar o seu remédio sobre a sua morte, algumas perguntas são válidas: qual ou quais os problemas de você morrer? Busque dar notas de 0-10 para cada uma destas dores. Sobre o remédio ou vacina para a morte de alguém, seja uma filha, um pai, uma avó, seu cônjuge ou amigo, tente fazer a mesma pergunta acerca de qual ou quais seriam as dores e respectivas notas. Listadas as dores, como você pode aprender a lidar bem com cada uma delas?

Criar ou descobrir as próprias respostas é uma tarefa de importância existencial para quem tomá-la em suas mãos, valendo pedir ajuda em caso de necessidade, seja para as religiões, pais, mães, avós, músicos, artistas, filósofos e/ou para profissionais que lidam com estes sofrimentos no seu dia a dia.

O meu avô me disse certa vez: “todos sofrimentos que você tiver, algum pensador já os teve e escreveu bem sobre como lidar com ele, busque-os e estude-os”; e ao estudá-los, uma frase de Sêneca, filósofo estóico, sempre ficou comigo: “faça o que de ti depende, de resto, seja apenas firme e tranquilo”; aprendendo a diferenciar o que de ti depende e em que nível.

Portanto, em que nível depende de mim evitar a minha morte e a de quem amo? E o que preciso aprender para lidar de maneira “firme e leve” (dentro do razoável) com o meu fim e o de quem amo?

Dr. Bayard Galvão 
Psicólogo Clínico 

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