sábado, 24 de janeiro de 2009

Prazeres e seus problemas (parte 1)


É possível pensar sobre prazer fazendo uso de alguns critérios:
1- O que é prazeroso em si
2- O que uma pessoa acha que dá prazer, mas assim não o é
3- O que é prazeroso apenas por ser novo/ diferente

O primeiro abre a pergunta de o quanto alguém conhece a si o suficiente para saber do que gosta, de fato. Não é preciso ir muito longe, basta ver que a perfeição esperada de alguns homens para algumas “mulheres” é, às vezes, atingida (inteligente, sensível, bom ouvinte, carinhoso, trabalhador, que conversa sobre a relação de maneira fluída, fragilidades e afins), apenas para descobrir, após um tempo, que se sentem como se estivessem casadas com bons amigos, mas não homens, não entendendo de onde vêm esses sentimentos.

O seguinte aspecto é o quanto alguém aprende a pensar que existem coisas que lhes dão prazer, mas assim não o são, muitas pessoas lutam boa parte da vida para obterem coisas que, ao conseguirem, não se mostram como sendo tão interessantes o quanto pensavam, às vezes, nem de perto. Nesses termos, poder-se-ia colocar nos seguintes termos, idealmente: (1) alguém se conhecer e saber o que gosta, diferenciando do que parece gostar; (2) buscar isso, sendo assim, nunca uma ilusão a felicidade a qual se quer.

O terceiro talvez seja o aspecto mais complicado do prazer, pode-se pensar em sexo com pessoas diferentes, comidas exóticas, um carro novo, uma nova relação e uma roupa nova; assim, pode-se pensar em 2 possíveis ingredientes que dão prazer: (1) a coisa em si (a comida, o carro, a relação...) e (2) o fato de ser novo/ diferente; ambos contribuem para a intensidade do prazer, eis aqui o problema.

O novo é um ingrediente muito importante na intensidade do prazer, até porque, com bastante freqüência, é a única variável da sensação agradável. Então, como ter uma vida prazerosa, constante e segura, se uma das razões mais fortes da felicidade é a novidade, o diferente? Até porque, obviamente, a novidade de hoje é o comum de amanhã.

O homem ou mulher que colocar a novidade antes da rotina e seus efeitos, está fadado a estar sempre mudando a própria vida. Entretanto, com a idade, a novidade perde seu poder, provavelmente por duas razões: (1) muitas coisas são apenas aparentemente diferentes e (2) o custo de constantes mudanças se torna maior do que o seu ganho, dando espaço para uma vida mais rotineira. A alteração da relação custo/benefício ao longo da idade provavelmente ocorre por aumento de sabedoria e alterações neurofisiológicas que diminuem o prazer em relação ao novo (e ao rotineiro), facilitando a falta de “amortecedores” para as durezas da vida, inclusive da mudança, aumentando a probabilidade de uma série de mudanças psicológicas de busca do já existente.

Enfim, viver não é fácil, e fica tão mais complexo quanto mais alguém buscar entender as relações entre as coisas, de si com elas e a si mesmo.

2 comentários:

Maria Clara disse...

Essa reflexão pressupõe então que não seria interessante a busca pelo novo, já que invariavelmente o novo deixa de ser novo? Isso quer dizer que é preferível tentar entender os aspectos da rotina e tentar driblá-la de outra forma?

Simone disse...

Essa reflexão pressupõe então que não seria interessante a busca pelo novo, já que invariavelmente o novo deixa de ser novo? Isso quer dizer que é preferível tentar entender os aspectos da rotina e tentar driblá-la de outra forma?