sexta-feira, 29 de julho de 2011

Um Excelente Medo


A única coisa incurável e intratável na vida é o tempo que passou... É possível relermos ele, ressignificarmos, aprendermos novas coisas com ele... Mas o tempo não volta...


Sêneca falou, não exatamente, mas disse: “boa parte do que foi me escorreu pelas mãos sem eu perceber, hoje ainda perco tempo, mas sei dizer quando, como e por quê...”


A real perda de tempo, aliás, trocarei a palavra “tempo” por “vida” é, no fundo, não aproveitar o que a vida tem para oferecer... Pois a verdade é que o tempo nunca é perdido, pois sempre estamos fazendo algo, por mais que não percebamos ou estejamos vivendo mal... Assim, não se perde vida, apenas não é saboreada nas suas reais possibilidades...


Então... A questão fica em termos de como saborear a vida... Alimentar-se da vida se refere a 2 aspectos: objetivamente (como sexo , vinho ou comida) e espiritualmente (relacionamento, um filme, livro ou música)... Nesses termos, a vida é um enorme banquete... Alguns alimentar-se-ão de alguns tipos de comida, outros de muitas, alguns se preocuparão muito com a qualidade, outros ficarão na quantidade... Enfim, todos terão suas refeições diárias...


É possível, de inúmeras maneiras, viver mal... Uma delas é não saber perceber e valorizar o que se tem à frente, outra é não estar disposto a passar pela grande dor de mudar de situação...


Ora, dessa maneira posto, é necessário a uma pessoa saber pelo menos duas coisas para se nutrir bem:


- perceber e valorizar o que tem à sua frente


Lembro-me de estar numa festa e um cidadão colocar um dos melhores whiskies do mundo num copo com 3 pedras de gelo (o que já doeu, pois aguar demais um néctar desses é um crime) e adicionar guaraná, o que aí foi uma violência sem fim. Ora, é como um indivíduo estar com uma excelente mulher à sua frente, ao seu lado, apaixonada por ele, e tudo que consegue saborear dela é sexo e seu corpo. Ou seja, para ele não faz diferença se é uma mulher linda e boa de sexo ou se é isso mais uma rainha por mérito próprio, que sabe cuidar dele, que tem bom caráter, justo humor, honra em suas palavras, lealdade em suas entranhas, ambição de perfeito equilíbrio, leveza felina e a graça de uma bailarina num diálogo.


- pagar o violento preço de uma mudança


Ora, separação, mudança de profissão, diminuição de condição financeira por um ou outro ou tantas outras razões é uma violência possível de ser imposta por si, para si, para melhor saborear o banquete da vida depois, quando curado das feridas da violação em questão, pelo menos parcialmente.


Então, proponho a você, leitor, um excelente medo: de chegar ao final da vida achando que viveu mal, por uma das duas razões acima e/ou outras que dependam de você...


Uma das maiores lições de vida que tive foi quando acompanhei uma homem morrendo diariamente, com 79 anos de idade e câncer como seu algoz, com dificuldades desabafou mais ou menos isso: eu deveria ter saboreado melhor. Sempre lembro dele em momentos que o medo de tomar uma atitude dolorosa e necessária para o banquete da vida me paralisa inicialmente.

Um comentário:

Marilia Menegassi Velloso disse...

Pertinente,verdadeiras palavras que assustam mas fazem pensar.