segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Finalização de Relacionamentos

Uma separação ocorre na medida em que um relacionamento tem mais coisas ruins do que boas, pelo menos para um dos indivíduos do casal, às vezes para os dois. Esquecer desse aspecto é entrar numa fantasia de que algo quase-perfeito acabou, sofrendo e derramando lágrimas por um relacionamento que nunca ocorreu. Possivelmente tornando o fim um liquidificador de emoções e da própria carne em que se pensa que o divino sempre buscado na vida desapareceu.

É impossível listar todas as possíveis dores de uma separação, apenas citarei algumas e comuns eficientes formas de como refletir sobre algumas delas, colocadas de maneira sintética:

A perda de quem fazia bem
A dor da perda dos belos sorrisos, das boas conversas, dos confortantes e confortáveis abraços, do sexo, da companhia para uma viagem, para um cinema, uma janta ou uma fria tarde escura de domingo em que tudo que se quer é deitar e soltar o corpo do lado de alguém que aguenta quem somos.

Possíveis reflexões
- Perder alguém especial é sempre doloroso, poucas pessoas na nossa vida são insubstituíveis, mas existem, e perder uma delas é ter saudades até o fim dos dias.
Lidar bem com essa dor é como aceitar a morte de alguém querido, a melhor forma, talvez, de como lidar com ela, é se focando nos belos momentos vividos, cuidando dessas lembranças e épocas com carinho.
- Aprender a se abrir a um novo relacionamento, apesar de saber que nunca será igual, mas que pode vir a ser tão saboroso quanto.

Orgulho ferido
É bastante acertado dizer que a mais comum frequente dor do ser humano é olhar no espelho e não gostar do que vê, objetiva e/ou subjetivamente.
Ser rejeitado significa alguém olhar para nós e dizer: quem você é, nesse momento da minha vida, não é suficiente para que eu me disponha a ficar com você... Seja lá por qual causa for.

Possíveis reflexões
- Não é porque um vegetariano não come numa churrascaria que a mesma deixa de ser boa para quem gosta desse tipo de alimento. Às vezes, o gosto que nós temos apenas não é o que a pessoa quer para ela.
- Por vezes, precisamos realmente nos melhorarmos, no mínimo para um próximo relacionamento, de maneira a cometer menos os mesmos erros.

Solidão
Há diferentes possíveis definições para solidão, uma é ter a incapacidade presente de compartilhar da própria intimidade. Outra seria apenas não ter alguém do lado, que no fundo pode não ter muito mais capacidade de aplacar a dor de estar só do que um animal de estimação.
Entretanto, a ideia de solidão advém, com frequência, de ter que cuidar da própria vida sozinho, o que cansa, podendo levar à exaustão.

Possível reflexão
Um possível ideal, aqui, é aprender a fazer por si o que o outro fazia, seja algo de uma logística simples da vida como ir ao mercado, pagar uma conta ou ter que lidar com uma doença própria ou de alguém amado.

Medo do futuro
Um bom relacionamento multiplica as alegrias por 2 e divide as dores por 2. Contudo, se for ruim, divide as alegrias por 2 e multiplica as dores por 2.
A fortuna é a dona do futuro, se será bom ou ruim não sabemos, sendo que ele é temido, obviamente, pelas coisas ruins que possam ocorrer.

Possível reflexão
Para algumas prováveis possibilidades do futuro é importante nos prepararmos, de forma a temermos menos o mesmo: morte, traição, diminuição de renda financeira, eventuais doenças, morte de quem amamos, ser injustiçado e solidão. Uma vez que saibamos lidar com essas comuns dolorosas situações da vida, nos tornamos menos vulneráveis à fortuna, temendo menos o futuro.
Não é fácil aprender a lidar com essas situações, mas sim necessário.

Sensação de pequeneza
É fácil nos sentirmos pequenos quando os nossos esforços se mostram ineficientes no amor.

Possível reflexão
É um verdadeiro golpe descobrirmos que somos pouco ou ineficientes para algumas coisas, mas o máximo que podemos fazer  é aceitarmos o tamanho que temos, buscando, na medida do possível, evoluirmos no que nos é possível.
O nome disso é modéstia, viver dentro dos próprios limites, fazendo isso com os pés enterrados na terra, na realidade, o nome disso é humildade.
Muitas das piores mentiras da nossa sociedade acerca do amor vêm na forma de filmes, músicas e novelas que dizem: amor é apenas verdadeiro se for para sempre; quem não amou a vida inteira, não viveu; separe-se apenas quando não houver mais o gostar; o verdadeiro amor é incondicional e outras fantasias gostosamente amargas e violentas.
Ademais, amar é um alimento para o espírito, e como os alimentos para o corpo, fará parte de nós por um tempo, nos tornando mais fortes, dispostos e plenos. Contudo, se não puder fazer parte de nós até o fim dos nossos dias, que o seja reverenciado pelo tempo em que nos alimentou.

Sensação de incompetência-fracasso
Não há fracasso sem tentativa, sem expectativa. Algumas pessoas por medo de fracassarem ou serem incompetentes, não tentam, mas o efeito disso é não descobrirem as próprias (in-) capacidades, perdendo a possibilidade de conhecerem mais a si, evoluírem e saborearem reais possibilidades do viver.

Possível reflexão saudável
Pensemos em 3 variáveis: esforço, controle sobre aquilo a que usamos o nosso esforço e resultado.
Muitas vez nos esforçamos em demasia naquilo que temos pouco ou nenhum controle, nos desgastando enormemente com algo que temos quase nenhum governo sobre o resultado, como tentar salvar alguém do alcoolismo, depressão ou fazer com que alguém goste de nós. Temos governo sobre poucas coisas externas a nós, o problema é que muitas vezes achamos poder mais do que realmente podemos, ficando decepcionados conosco por sermos incompetentes, mas a verdade é que nunca dependeu de nós, apenas não percebíamos.

Considero fundamental melhorarmos a nós mesmos, no processo, as nossas faltas, falhas e limites apenas mostram a nossa condição humana.

Culpa
Culpa é o sentimento que advém de termos faltado ou falhado para com as nossas obrigações ou deveres. Daqui a necessidade de diferenciar o que seria uma razoável obrigação ou exigência e a que seria injusta ou até desnecessariamente violenta.

Possível reflexão saudável
Sobre a culpa injusta e violenta de se obrigar a salvar alguém do alcoolismo, perguntar-se: em que medida é razoável eu usar a minha vida para ajudar quem não quer se ajudar? Em que medida faz parte das minhas capacidades tirar alguém do alcoolismo?

Sobre a culpa real de ter cometido uma traição por infidelidade ou outra. Apenas podemos trair pessoas que confiam em algum nível em nós e vice-versa, em que medida o perdão é razoável? E se não o for, há como reparar? Se sim, como? Se não, em que medida dedicar a própria vida a plantar sementes em terras inférteis ou apenas reconhecer exatamente como e onde errou, evitando falhar e/ou faltar nos mesmos pontos?

Perda do sonho de ser mãe
Algumas mulheres e homens aprendem a se considerarem completos apenas ao se tornarem pai ou mãe.
Não existe instinto maternal, paternal ou de reprodução, o que existe é instintivamente o prazer no toque, o qual dá origem ao sexo, que como efeito pode levar à reprodução e manutenção da espécie.
Sentir-se pleno ao ser pai ou mãe é um conceito essencialmente individual, como se sentir completo ao atingir um cargo ou ter uma atividade religiosa.

Possível reflexão
Uma mulher recém separada de 38 anos que quer ser mãe tem poucas opções e nenhuma delas é fácil: achar alguém rápido para namorar e engravidar, engravidar do sexo de uma noite, banco de esperma, adoção, procurar alguém que já tenha filho e tentar exercer a função ou abrir mão de ser mãe.
Perigoso criarmos um sentido na vida que independe de nós e que não possamos abrir mão se necessário.
O que define a nossa plenitude na vida é o que aprendemos a pensar e valorizar como tal, e por vezes, aprendemos a valorizar exatamente o que não somos ou não podemos, gerando uma desvalorização própria e injusta na sua essência, como acreditar que só se é mulher ao gerar uma criança, quando o próprio corpo não aguenta o desejo.

Perda do significado-sentido da vida
A maioria das pessoas coloca o sentido ou significado da vida estar casado.

Possível reflexão
A possibilidade de romance na vida acaba no dia que morremos, é limitante e limitado circunscrevermos o romance a uma idade. Enquanto estivermos dispostos a nos melhorarmos como amantes e buscarmos companhia, sempre haverá a possibilidade de um novo amor, mesmo que para isso exista uma longa época de carência.

Sentimento de inferioridade
Segundo os olhos do outro, é realmente possível sermos entendidos como inferior a alguém, ou muitos "alguéns".

Possíveis reflexões
Todo e qualquer aspecto de superior ou inferior se refere a um critério, o qual se torna primordial deixar claro qual é, uma mulher pode ser mais feia do que a outra, basta descrever-apontar alguma considerável ideal e ver qual está mais perto dessa, o mesmo vale para inteligência, poder financeiro, caráter, personalidade e assim por diante.
Nesses termos, perguntas:
- Qual o ideal?
- Por que esse ideal é melhor que outro ideal?
- Em que medida esse ideal faz parte do que é realmente importante na vida?
- Qual o problema de ser inferior? Sempre seremos inferiores ou superiores em algo em relação a alguém.
- Mas afinal, o quê valorizar no ser humano?

Perda de amigos
Não é incomum uma separação gerar a perda de amigos, alguns casais se afastam do casal amigo que agora está separado, seja porque um dos cônjuges do outro casal tem mais amizade com a outra pessoa do casal que se separou, seja por medo de uma pessoa solteira na vida do casal, por poder vir a se envolver com um dos casados e/ou começar a dar ideias sobre separação apenas pela presença. O diferente numa tribo sempre ameaça a mesma.

Quem rejeita costuma perder amizades, em grande parte porque ganha a aparência de algoz, pois quem foi deixado, sofre. Entretanto, é esquecido que houve uma história que eventualmente poderia mostrar que o "rejeitador" foi rejeitado inúmeras vezes antes de rejeitar.

Possível reflexão saudável
Alguns poderiam dizer que caso houvesse um afastamento de amigos após a separação, é porque nunca teriam sido amigos, isso é verdade, às vezes.
Sobre várias coisas não temos controle, deixarmos de nos separarmos por termos medo de ficarmos sozinhos é nos tornarmos reféns.

Comentários dos outros
Um dos grandes prazeres das pessoas foi e sempre será falar mal dos outros, não é à toa que há programas televisivos que mostram pessoas no dia a dia dentro de uma mesma casa se relacionando. Os telespectadores podem ver a coisa e passar dias falando bem de uns e mal de outros, o mesmo vale sobre ficar sabendo de uma fofoca de colegas e amigos que estão se separando.

Possível reflexão saudável
Raras são as opiniões que merecem uma real consideração e reflexão, saber diferenciá-las é fundamental ao viver.

Estar velho e não ter mais idade para achar alguém
Nunca se é idoso o suficiente para começar um romance, até tende a ficar mais difícil começar um relacionamento aos 75, mas pior é ficar preso nos últimos anos de vida a uma situação que mata em vida. Entretanto, é verdade que porque muitas pessoas vivem mal casadas e pior separadas, nunca se separarão.

Possível reflexão saudável
Tornar-se tão bom amigo para si quanto for o seu melhor amigo. Uma vez atingido esse objetivo, perguntar-se: eu fico melhor na minha presença, de uma maneira geral, ou na presença do outro?

Entretanto, vale lembrar que essas seriam algumas dores possíveis da separação, contudo, o fim de um relacionamento é também o ganho de muitas outras: liberdade de movimento, possibilidade de achar um relacionamento melhor, retomar antigos sonhos, botar a cabeça no travesseiro sem o amargor de estar do lado de alguém que não se quer mais, respirar aliviado por não se forçar a ter que abraçar quem não é mais querido e tantas outras belas trilhas.

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