segunda-feira, 8 de setembro de 2014

"A fila anda!"

Essa talvez seja uma das frases mais comuns de serem ditas nos dias de hoje, principalmente, logo antes e após uma separação. É uma ideia que carrega a sabedoria de não se submeter a um relacionamento que faça mais mal do que bem (todos geram ambos os efeitos), e também a Armadilha de investir pouco num relacionamento, atribuindo muito ao outro e pouco a si pelo possível e provável fim, o que até pode ser verdade, mas muitas vezes não o é. Um dos maiores e mais frequentes problemas das pessoas é não estarem preparadas para respeitarem o outro tanto quanto o fazem consigo, num relacionamento. Um dos efeitos mais comuns proveniente dessa atitude é: “Ah... Tem algumas coisas me incomodando nele ou nela, vou trocar... Próximo(a) da fila... ”. Leve assim, amargo assim, nefasto assim.


Uma consequência frequente de uma vida prolongada dessa maneira onde se pula de breves relacionamentos em breves relacionamentos é a solidão (incapacidade presente de compartilhar dos próprios sonhos, medos, inseguranças e felicidades) em meio a tantos nomes e corpos, em que todos se parecem e nenhum é conhecido.

Marilyn Monroe (1926-1962) parece ter dito: “Uma garota esperta beija, mas não ama; ouve, mas não acredita; e vai embora antes de ser deixada”. Entretanto, em outro momento a mesma parece ter afirmado “Ame como se você nunca tivesse se machucado antes”. São disposições de espírito e buscas comuns referentes a relacionamentos de quem se machucou, foi traído e/ou se decepcionou na difícil arte e sabedoria do viver a dois.

Quem nunca foi displicente com o próprio sentimento e/ou com o de alguém que “atire a primeira pedra”, mas mais importante do que não errar, algo apenas possível ao ser humano, é aprender com a coisa, e se possível, perdoar a si e/ou ao outro.

Assim, algumas ideias para não precisar de uma “fila”: melhorar-se para tratar melhor o outro; aprender a observar melhor a outra pessoa para não se entregar a quem não merece; não ser deslumbrado com beleza, dinheiro, poder ou quantidade de pessoas momentaneamente conquistadas; esperar o que é próprio e possível a um relacionamento; entender que paixão tem curto prazo de validade, que até é possível senti-la várias vezes num longo relacionamento, mas não será constante.

Relacionar-se bem exige sabedoria, algo possível apenas mediante vivências, reflexões sobre elas e uso das mesmas para acertar mais e errar menos, assim, com o tempo, as pessoas que buscam se melhorar, de fato, conseguirão se relacionar melhor quando tiverem mais idade, machucando menos a si e aos outros, inspirando e fazendo mais o bem.

E Charles Chaplin (1889-1977) parece ter escrito numa carta para a sua filha Geraldine: “Seria recomendável deixar seu corpo nu pertencer apenas àquele a quem cair no amor com a sua alma nua.”*

* Interpretei a frase do inglês “Your naked body should only belong to those who fall in love with your naked soul”, que não tem tradução ideal no português tanto da expressão "should", geralmente traduzida como "deveria" (sendo que "dever" não tem relação alguma com a ideia) quanto "fall in love", comumente traduzido como "apaixonar-se", que carrega um tom de perda do raciocínio e submissão ao sentimento, que não é o caso. Ainda, na frase foi colocada a palavra "those", que dá o plural de "entregar o corpo àqueles que caíram..." Não acredito que Chaplin estava falando de entregar-se para várias pessoas ao mesmo tempo ou para "um de cada vez na fila". Imagino ter sido apenas uma expressão que conotaria poder amar uma pessoa de cada vez, contanto que ela lhe conheça e a ame, como de fato, és, algo (quase) impossível de ser feito com mais de 1 pessoa ao mesmo tempo e muito difícil de ser feito com muitas pessoas ao longo da vida.

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