terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Amar e Café - Parte I

Situação
Mulher acredita ter encontrado o homem da sua vida, mas a sua história em outros relacionamentos a faz desconfiar do que sente e do futuro do que se está construindo, devido a isso, investe menos no novo amor, decorrente desse menor investimento, o homem se sente desvalorizado e entende que ela não o quer como ele a ela, desse ponto, ele investe menos, ela percebe um leve afastamento dele, que a leva a confirmar o achismo que o presente será como o passado, colocando menos ainda do seu futuro e presente no casal, piorando a impressão dele, que o leva a se dedicar menos, piorando a visão dela, até que nada mais sobra.

Quem, depois dos 30 anos de vida, tendo tido pelo menos uma separação ou casamento, consegue não ter sequelas que dificultem um próximo relacionamento ou o atual? Sequelas são as posturas, atitudes, pensamentos e sentimentos aprendidas ou formadas em si depois de um relacionamento, ou até dentro de um relacionamento que limitam ou machucam, desnecessariamente, o convívio do casal.
A ideia básica das sequelas é que o que aconteceu de ruim, repetir-se-á num próximo relacionamento, confundindo assim o passado com o presente, “o” ou “a” ex- com “o” ou “a” atual. Nada mais brutal, nada mais errado.
Quando se vai a uma loja de perfumes, após experimentar 2 ou 3 deles, indica-se café, para então conseguir sentir o cheiro, de fato, do próximo, sem confundir a todos. O mesmo precisa ser feito entre relacionamentos e até no mesmo relacionamento (a cada ano, precisar-se-ia reler a pessoa que está à sua frente, perguntando-se: no que ela mudou? Quais gostos mudaram? Ela está mais ou menos confiante? Mais ou menos feliz? Estamos melhores ou piores do que 1 ano atrás?).
O “café” pode vir em 3 vertentes:
1- Quais feridas ou cortes ficaram?
2- Onde faltei ou falhei? Como melhorar?
3- O quê procurar num próximo relacionamento?

Qualquer uma das três vertentes é complexa e cheia de detalhes e que podem fazer toda a diferença. No texto “Parte II”, procurarei abordar a primeira vertente, na “Parte III”, a segunda e por aí vai.
Ao "cheirar e tomar café", a maturidade daí decorre, o amar puro daí pode germinar, aquele das quais músicas, como "Linda" do “Roupa Nova”, ganham vida, dentre tantas outras.
Entendo as músicas da sociedade como um termômetro do educar e do que foi educado na sociedade, basta comparar a letra da primeira música e da poesia em seguida (transformada parcialmente em música por Toquinho, acredito) e se perguntar o que é se relacionar numa e noutra:
Música: "Já Sei Namorar"
Grupo: Tribalistas

Já sei namorar
Já sei beijar de língua
Agora só me resta sonhar
Já sei onde ir
Já sei onde ficar
Agora só me falta sair

Não tenho paciência pra televisão
Eu não sou audiência para a solidão
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo me quer bem
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo é meu também

Já sei namorar
Já sei chutar a bola
Agora só me falta ganhar
Não tenho juízo
Se você quer a vida em jogo
Eu quero é ser feliz

Não tenho paciência pra televisão
Eu não sou audiência para a solidão
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo me quer bem
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo é meu também

Tô te querendo
Como ninguém
Tô te querendo
Como Deus quiser
Tô te querendo
Como eu te quero
Tô te querendo
Como se quer
(2x)

Letra e Música: Para Viver Um Grande Amor
Autor: Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

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